sábado, junho 24, 2006

"Austrália é responsável pela crise"

jn.sapo.pt/2006/06/23/

Orlando Castro

A crise política timorense continua ao rubro. O presidente ameça demitir-se se o primeiro-ministro não o fizer. Mas afinal o que se passa neste jovem país, rico em petróleo e gás natural mas, ao mesmo tempo, o mais pobre da região?

Alfredo Assunção, general na reserva, chefiou o Estado Maior das forças da ONU em Timor-Leste entre 2000 e 2001 e não tem dúvidas "A Austrália está na origem desta, como de anteriores, crises no país". E acrescenta: "A diferença é que agora conseguiram quebrar a união entre Xanana Gusmão e Mari Alkatiri".

JNA crise que Timor-Leste vive actualmente espanta-o?

Alfredo AssunçãoNão. De modo nenhum. A minha experiência, em função da actividade que desempenhei no quadro da ONU, com todas as partes envolvidas, permite-me concluir que, mais cedo ou mais tarde, algo deste tipo ia acontecer.

E o que levava a antever essa situação?

A Austrália é, como sempre foi desde que Timor-Leste se tornou independente, o principal inimigo do país. A coberto de um estranho conceito estratégico de segurança regional, sempre quis controlar tudo e todos. Até agora, não o tinha conseguido na totalidade porque Xanana Gusmão e Mari Alkatiri estavam unidos. Ao quebrar essa união, abriu caminho para tomar conta do país.

Timor é um risco para a segurança regional?

É o que eles alegam, como se fosse possível Timor-Leste pôr em perigo, agora como no futuro, a segurança regional. Na verdade, como sabem o Governo português e as Nações Unidas, o que preocupa (ou interessa) aos australianos é o petróleo e o gás. Ora, para controlar essas enormes fontes de riqueza, nada melhor do que estarem fisicamente presentes e controlarem numa atitude colonialista todo o sistema político-governativo do país.

Por outras palavras, afastar o primeiro-ministro?

Afastar este primeiro-ministro ou qualquer outro que, como Mari Alkatiri (apesar dos erros cometidos) ponha os interesses dos timorenses acima da ambição dos vizinhos - neste caso da Austrália.

Então a questão das armas, dos "esquadrões da morte", não tem consistência?

É, pelo menos, suspeita. Parece-me que só por si não justifica tanto alarido e muito menos a exigência da demissão do primeiro-ministro e a ameaça de auto-demissão do presidente. Há algo que não bate certo.

Qual é o elo que falha?

Quando estive em Timor-Leste uma segunda vez, Junho de 2003, estava a ser criada o GDR (Grupo de Desdobramento Rápido) que era uma unidade especial de combate exclusivo a actividades subversivas, sobretudo vocacionada para controlar as milícias pró-indonésias. Essa força tinha a aprovação tanto do presidente da República como do primeiro-ministro e, tanto quanto creio, é a que agora é apresentada como a força que visava eliminar adversários políticos.

Então foi, digamos, mais um facto "fabricado"?

Provavelmente. Mas que resultou, lá isso resultou. A divisão criada no seio dos militares abalou o país mas não quebrou a sintonia entre Xanana e Alkatirir. A suposta segregação entre timorenses de lados diferentes da ilha (de que nunca ouvi falar) também abalou, mas não passou disso. Finalmente conseguiram um motivo para o presidente se afastar do primeiro-ministro...

Quem conseguiu?

Os australianos. Quem mais está interessado em ser dono e senhor das riquezas de Timor-Leste? Os australianos. Apenas eles.

.

1 comentário:

Anónimo disse...

Xanana Gusmão está preocupado, não quer a FRETILIN: quer o poder absoluto!

A FRETILIN não tem estado a facilitar as coisas a australianos e aos poucos* timorenses que se manifestam contra Mari Alkatiri.

Há, no entanto, aqui vários problemas.

Primeiro acharam que seria massacrando Mari Alkatiri que conseguiriam alterar as coisas. Agora perceberam que Mari Alkatiri não está agarrado ao Poder, mas sim agarrado à Constituição da República.

E perceberam também que a FRETILIN sabe continuar a respeitar a Constituição da República e que o fará sempre - contrariando a vontade de Xanana Gusmão e seus pares.

Surge o independente ministro José Ramos Horta, não surpreendentemente, a posicionar-se para reentrar na FRETILIN, para tomar o poder por dentro - quiçá para aceder a primeiro-ministro sem ser por iniciativa presidencial -, controlar o partido e mudar o rumo do mesmo mais para os interesses de Camberra e de Washington -, e até já "autorizou" o seu embaixador americano a regressar a Dili.

Xanana Gusmão cometeu outro erro estratégico no processo do assalto ao poder- e aqui não leva aspas pois é mesmo de assalto ao poder que se trata em Timor -, na sua provincial declaração deixou escapar da primeira à última linha que o que se pretende é a decapitação da FRETILIN e a sua anulação política e partidária.

Xanana Gusmão, que esteve e está, desde a primeira hora, numa política de enfraquecimento da FRETILIN - criando** partidos políticos e estímulando a sua acção -, tem agora o maior desafio da sua estratégia comum a José Ramos Horta e aos amigos americanos e australianos, que é o de provocar o declínio do maior partido timorense.

A execução do plano de aniquilação do partido político FRETILIN ainda está em marcha.

O passo seguinte é o que está a acontecer.

A FRETILIN percebeu desde o início a estratégia de Xanana Gusmão. Conduziu as coisas até a ponto em que estamos.

Xanana Gusmão, provinciano que é, mal preparado e mal aconselhado, perdeu as estribeiras e veio a público gritar brejeiramente, em tom e conteúdo bulhento, contra a FRETILIN e pessoas às quais o país deve muito, como é o caso do comandante Lu'olo.

O plano seguinte também já está em marcha.

Xanana Gusmão, ontem de forma burlesca, dirigiu-se aos seus homens - aqueles que ele tem controlado desde a primeira hora e protegido -, em pleno centro da cidade, protegidos pelos militares australianos***, para lhes agradecer a dedicação, usando as suas palavras, a "esta guerra".

Agora a hora é de passar à destruição da FRETILIN.
As tropas pseudo-políticas (a quem Xanana vai ter da pagar as promessas, pois caso contrário ...), de Xanana Gusmão, com Fernando de Araújo, Leandro Isaac, Manuel Tilman, Mário Carrascalão, Ângela Carrascalão, Lúcia Lobato, Joe Gonçalves, entre tantos outros pela primeira vez, nestes últimos anos podem andar a gritar vitória com os manifestantes pelas ruas de Díli.

Provocar a FRETILIN para uma reacção violenta ao circo montado em seu torno é o objectivo dos manifestantes, coordenados com a chefia máxima, de forma a provocar o governo de iniciativa presidencial. De outra forma, na forma actual, será a FRETILIN a decidir quem e como governa. A Constituição está viva e a FRETLIN, ao contrário do Presidente da República continua a ser o único pilar que sustém a Democracia, a Soberania ea Unidade Nacional.

Xanana Gusmão e José Ramos Horta sabem-no e estão a desesperar, estão emparedados.

A ofensiva seguinte está aí, os desertores passaram a Frente Nacional - com o sorriso de Xanana Gusmão - e já tomaram várias medidas, como a do encerrar o Parlamento Nacional e tomar conta dos movimentos na cidade de Dili.

* Poucos manifestantes, duas a três mil pessoas não têm "quórum" para a representação de um Povo Soberano e Democrata;

** sobre a consituição do PD e do PSD todos sabem dentro e fóra destes partidos como se processou o seu nascimento nos bastidores e o contributo que o "fotógrafo" deu ao surgir nos comícios como que por acaso;

***A entrada dos militares australianos era fundamental. De tal forma, que José Ramos Horta, com o "cc" de Xanana Gusmão, assinou o acordo, à revelia do governo ao qual pertence, dotando de poderes totais as tropas australianas - há sempre um preço a pagar nestas coisas.
Sem as tropas inoperantes, mas a comandar internamente, Xanana Gusmão e José Ramos Horta não tinham conseguido levar o processo até ao ponto em que está.

Reparem como os manifestantes foram introduzidos na cidade com o apoio das tropas e a sua segurança é assegurada pelos militares. reparem como Xanana Gusmão não respeita os seus pares e "deixa" promover provocações em caravana automóvel a casa do primeiro-ministro e em frente às instalações da FRETILIN.

Enquanto isso, nas estradas do país, as tropas australianas estão a bloquear os militantes da FRETILIN que organizados por si e em grupos pretendem dirigir-se a Dili.

Conclusão prévia:

Mesmo sem Mari a dirigir o Governo, vitimado por um golpe de Estado presidencial, a FRETILIN continuará a ser o partido que formou o governo em funções, com ou sem Mari Alkatiri.

Sabemos, todos nós ,que as coisas não ficam por aqui.

Xanana Gusmão, os amigos e a Austrália não estão satisfeitos - não esquecendo os USA, que já manifestaram todo o apoio à Austrália nas suas decisões para com Timor-Leste -, daí que se esperem mais ofensivas contra a pacificidade da FRETILIN, hoje, amanhã, mas não para sempre - desde que José Ramos Horta consiga entrar lá para dentro.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.