domingo, junho 18, 2006

Dos leitores

A história é como é, não como gostaríamos que ela fosse.
Por muito que isso custe a muita gente, foi Xanana Gusmão... com o apoio dos guerrilheiros que recomeçaram a luta depois das derrotas estratégicas de 1978/79... que instituiu formalmente o marxismo-leninismo como ideologia da Fretilin e que criou o Partido Marxista-Leninista - Fretilin. Anos mais tarde, percebeu o erro cometido, e decidiu... contra a opinião da maioria dos dirigentes da Delegação no Exterior da Fretilin... despartidarizar a guerrilha. Este processo todo está bem explicado no livro do professor Mattoso e no livro de Manuel Acácio (jornalista da rádio portuguesa TSF que já esteve em Timor por diversas vezes desde 1999) A ÚLTIMA BALA É A MINHA VITÓRIA, A HISTÓRIA SECRETA DA RESISTÊNCIA TIMORENSE em que são referidos documentos secretos da resistência e entrevistas de Xanana e de outros Comandantes das Falintil.

8 comentários:

Anónimo disse...

Quanto às datas que o comentarista menciona são datas de acontecimentos históricos com as quais não vou discordar. No entanto o seu pecado está na sua leitura literal das palavras do próprio Xanana na tal autobiografia ignorando ao mesmo tempo o contexto em que foram escritas essas palavras.

1- Diz que Xanana era membro da Fretilin na altura da declaração unilateral de Independência (nunca reconhecida pela comunidade internacional) trabalhando na Secção de Informação e Propaganda. Esta sua afirmação não poe portanto em causa o que disse relativamente a Xanana não ocupar cargo importante de decisão na estrutura política da Fretilin.

2- Não desmente o que disse relativamente a Constituição de então ter estabelecido o sistema de partido único para Timor o que sabemos todos nós ser um sistema contrário aos princípios democráticos. Querendo isto dizer que Timor já não era um país democrático como sugerido pelo nome da república mas possuia sim um sistema político já consistente com o sistema tipicamente Marxista-Leninista, mesmo já na altura em que Xanana era inconsequente nas decisões políticas tomadas pela direcção da fretilin.

3- Xanana Gusmão não “era o Comissário Político Nacional da Fretilin” à data da “Conferência Nacional de Reorganização” mas foi eleito nessa conferência para assumir tal cargo assim como também de Presidente do CRRN e Comandante em Chefe das Falintil.

4- Quanto às referências que faz à autobiografia de Xanana, muito convenientemente ignora o contexto em que Xanana fala do um “Partido Marxista Leninista Fretilin” em Timor. Na referida passagem intitulada “viragem ideologica” Xanana diz na sua análise que quando a Fretilin adoptou em 1975 a ideologia da esquerda que ameaçou os interesses estratégicos dos poderosos.
Continua dizendo que logo desde o início a Direcção da fretilin demonstrou um notável infantilismo político que tentava desafiar o mundo; que os seus antecessores viam o Marxismo como a “solução imediata” para os problemas de um povo incrivelmente sub-desenvolvido; que foram em verdade ludibriados por um processo revolucionário apelidado de “Mauberismo”. Diz também que esse infantilismo político tinha impulsionado o movimento desde 1974 e que não dava margem para disacordos mas sim o extremismo político que, de quando em quando, significaria a sua própria pena de morte.

Continua por dizer que eles próprios somente aprenderam o Marxismo-leninismo nas montanhas e foram influenciados pelo frenesim revolucionário que os deveria levar a realizar o SONHO DOS SEUS ANTECESSORES: criar um Partido Marxista-Leninista na Republica Democrática de Timor-Leste e que não foram eles mesmos os verdadeiros mentores do “Partido Marxista-Leninista Fretilin mas somente seguiam aquilo que tinham recebido dos seus antecessores. Afirma que na altura encontravam-se ofuscados pela visão de um processo milagroso de redenção humana, e que a humanidade tinha fechados os olhos ao exterminio do povo maubere.

Mais significativamente e por último declara publicamente que rejeita completamente qualquer doutrina que promova a repressão das liberdades democráticas em Timor-Leste.

O Anónimo diz e é consistente com as palavras de Xanana que realmente ele “contribui” mas não foi o autor. Ai se encontra a diferença. E depois de tudo rejeitou essa ideologia e despartidarizou as Falintil, decisão que iria distancia-lo do proprio partido e outros membros da CCF até a independência.

É exactamente esta viragem ideológica de Xanana que o transformou num verdadeiro democráta, aquilo que não aconteceu (pelo menos por completo) com certos membros fundadores que ainda hoje se encomtram vivos e firmememte no poder.

Anónimo disse...

Isto é realmente uma grande chatice mas já agora e indo ao tal livro A ÚLTIMA BALA É A MINHA VITÓRIA, livro de Manuel Acácio (que anda para aqui a servir manobras) encontra-se exactamente na página 104, em palavras que parecem ser de Konis Santana que: "Ao criar o Partido ML, Xanana cometeu o seu maior erro, ..." e imediatamente no parágrafo seguinte se pode ler, em narrativa do autor do livro que: "Os documentos herdados do anterior Conselho Permanente do Comité Central da FRETILIN, que já planeava criar um partido marxista-leninista, surgem como única bússula..." ... a mim pouco me interessa o género de peso que estão a lançar em cima de Xanana sobre essa verborreia típica sim de marxistas-leninistas quando é ele próprio que despartidariza a matéria. Ele explica muito bem essas coisas todas noutros documentos e mais haverá ainda em "resguardo". Grande estratega! Emendou um erro que recebeu de outros pois outra literatura não havia na montanha, é curioso como terá ele desenvolvido tal diferenciação e seguir em frente?! Coisa já de si complicada para outros?

Na página seguinte (pag. 105) é David Alex que diz que a história não é de 1981 mas que a matéria já era falada desde as Bases de Apoio.

Depois e ainda no mesmo livro, página 106, há um curioso último parágrafo onde se lê: "Entre a delegação da FRETILIN no exterior, a escolha do líder máximo da resistência é recebida com alguma surpresa, pois Xanana Gusmão era um quadro médio, apesar de integrar o Comité Central. A falta de informações concretas e credíveis, é um factor que faz aumentar a surpresa de Mari Alkatiri, a terceira figura na hierarquia da autoproclamada República Democrática de Timor-Leste: Durante três anos ficámos sem saber quem tinha morrido, e quem não tinha. Tínhamos a confirmação da morte do Nicolau Lobato, e de mais ninguém. Havia notícias de que o Mau Lear tinha morrido, de que o Hata tinha morrido, mas não havia confirmações. E, de repente, três anos depois, surge o nome de Xanana. Eu ainda me lembro de perguntar, a mim próprio, se ele seria mesmo o líder, ou se estaria a dar a cara para proteger outros líderes. Ainda acreditei que tivesse sido essa a decisão mas, passado pouco tempo, fiquei convencido que havia uma nova equipa de liderança."

Portanto só consigo ver que Xanana Gusmão tem ao longo do tempo assumido as suas culpas no cardápio da história, costuma até dizer bastas vezes "nós falhámos... nós temos que pôr a mão na consciência...", como hoje em dia mais uns que outros etc, etc, coisa que parece continuar a ser difícil de ser executada por esses mesmos outros.

Já agora, visto que não sei e gostaria de saber, voltavamos à página 76 do mesmo livro onde é dito: "Durante as audições da Comissão de Acolhimento Verdade e Reconciliação, Mari Alkatiri admitiu que possam ter sido executadas cerca de 200 pessoas, e reconheceu a necessidade urgente de ajudar a sarar as feridas abertas há quase três décadas." e termina Mari Alkatiri com uma frase que também isolo sem a retirar do contexto: "A FRETILIN tem que aceitar isso. Temos que reabilitar os nomes das pessoas, formalmente." CAVR, Relatório de Actividades, Dezembro de 2003 - Janeiro de 2004

A minha pergunta é se isso já foi feito?

Anónimo disse...

Bom, dizer que Xanana não tem responsabilidade porque 'herdou' algo - neste contexto - é quase inacreditável ... pois, TODOS os que ele considera terem sido os responsáveis pela ideologia que ele adopta na Conferência de Maubai, já tinham morrido!

Mais, diversos sectores das Falintil discordaram da constituição do Partido Marxista-Leninista! O debate manteve-se durante meses até que a decisão foi tomada. Mesmo assim, Xanana Gusmão foi em frente e declarou a mudança ideológica. E não se venha dizer que a influência veio do exterior, pois não é verdade. Não havia contactos na altura.

Consulte o CIDAC em Lisboa. A primeira troca de correspondência foi realizada entre Xanana Gusmão e o CIDAC.

Xanana Gusmão assumiu o erro publicamente. Não queira distorcer a história e muito menos as palavras do próprio Xanana Gusmão.

IC

Anónimo disse...

As FALINTIL foram despartidarizadas por decisao do COmite Central da FRETILIN.Nao foi decisao unica e excluziva do XG

Anónimo disse...

Não me diga que entre a hierarquia da FRETILIN no exterior, quando souberam que o líder máximo era Xanana Gusmão a surpresa demonstrada (inclusivé por Mari Alkatiri) se devia a que Xanana era um marxista-leninista? Ou antes porque nele iria ser complicado de manter tal folosofia?! è que a mudança de estratégia não demorou a ser executada.

Teve culpa porque as herdou, assumiu-as e remodelou a direcção e a acção. Ponto. Terá que admitir que ainda bem que o conseguiu fazer, estrategicamente.

Marxismos-leninismos atirados para trás e eis que a igreja passa a tomar posição pública clara de denúncia.

Aliás essa estratégia dará frutos, por pressão também e certamente por se ver que o caminho que estava a ser seguido não servia o povo, dizia, dará frutos imediatos com D. Martinho da Costa Lopes a denunciar ao mundo inteiro o genocídio em curso... substituido D. Martinho a mando do Vaticano, entra em cena Ximenes Belo... portanto o papel da igreja foi preponderante. É uma chatice mesmo... seja qual for a variante que se queira usar a coisa está complicada mesmo.

Em Outubro de 84 Ximenes Belo "pressiona" e diz só poder ajudar em determinadas condições.

A 25 de Abril de 86 D. Ximenes Belo e Xanana reunem-se... a 7 Dezembro de 87 Xanana declara a neutralidade das FALINTIL e lá se vai a condução da luta pela FRETILIN (leia-se a Mensagem de 7 Dezembro 1987, Xanana Gusmão, Timor-Leste - Um Povo, Uma Pátria, pp. 86 e 87).

E é fantástico como nessa altura escreve aquelas palavras e assume os erros. Mantendo a distância mas pensando nelas e vendo o que actualmente se passou nos últimos meses, senão mesmo outros pormenores igualmente importantes destes últimos 4 anos, a coisa mantém-se actualissíma:

(...) "As FALINTIL só terão uma sublime missão a cumprir: a defesa da Pátria de todos nós e a manutenção da ordem interna, instaurada por uma constituição que proclame a defesa pelas liberdades individuais e colectivas e o respeito pelos interesses de todos os cidadãos e classes sociais de Timor Leste" (...)

O direito de resistir está na Constituição saída da Constituinte:
Artigo 28.º
(Direito de resistência e de legítima defesa)
1. Todos os cidadãos têm o direito de não acatar e de resistir às ordens ilegais ou que ofendam os seus direitos, liberdades e garantias fundamentais.
2. A todos é garantido o direito de legítima defesa, nos termos da lei.
:::::::

Portanto se tudo correr conforme a Lei, quem a violou será julgado. Assim se espera.

Anónimo disse...

anonimo das 7:02:27.

A mudanca ideologica de que fala e precisamente a rejeicao da ideologia Marxista-leninista que ja tinha raizes profundas na Fretilin. A fretilin regia se ja pelos ideais marxistas-leninistas ainda que nao se denominasse como tal. O muito que xanana possa ter feito foi formalizar essa categorizacao.
Como explicam que a contituicao de 1975 intitucionalizava o sistema de partido unico? Tera assim sido porque a fretilin era um partido democratico? nessa altura o Xanana ainda era inconsequente nas decisoes politicas do partido.
tenham do e ganhem juizo.

Anónimo disse...

Nao pode haver duvidas algumas que o Kay Rala Xanana Gusmao e um dos politicos com maior maturidade politica e um desenvolvido sentido de responsabilidade.

Homem simples e sem medo de aceitar as responsabilidades pelos erros cometidos no passado mesmo quando nao sao propriamente dele.

Nem sequer pode haver comparacao possivel entre um Kay Rala e um Mari.
O mero acto de comparacao seria uma experiencia demasiada elevadora para o Mari. Digo isto deles como personalidades Timorenses do processo de libertacao de Timor e nao como seres humanos. ai ninguem e perfeito.
Xanana foi obrigado a reflectir a sua total rejeicao do Marxismo pela amarga realidade que vivia no terreno.
O Mari nunca se sentiu obrigado a tal reflecao por estar a viver em conforto em mocambique. A sua postura nestes ultimos anos tem sido uma tipica demonstracao de uma pessoa com tendencias altamente autoritarias. A sua infelicidade e que ja nao vivemos nos anos 70 e o autoritarismo ja nao consegue lancar raizes por terra tao facilmente como era entao na altura das grandes revolucoes esquerdistas.

Anónimo disse...

O livro do Manuel Acácio é uma ajuda essencial para percebermos a história de Timor-Leste. Comprei-o depois de ler os elogios que o Adelino Gomes fez ao livro. Para além de excertos de documentos inéditos, que não são falados no livro do professor José Mattoso, a grande riqueza deste livro são as entrevistas que o Manuel Acácio fez a Xanana, a Taur Matan Ruak, a Lere, Falur, Sabika, Mau Nana, Ular e outras figuras essenciais da luta pela independência. Vale a pena ler. Ainda por cima o livro é baratíssimo, acho que foi patrocinado pela rádio TSF, onde o autor é jornalista.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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