segunda-feira, junho 05, 2006

GNR deve actuar com "autonomia" e "dureza" - José Ramos Horta

Por António Sampaio e Paulo Rego, da Agência Lusa.

Díli, 04 Jun (Lusa) - Os 120 efectivos da GNR desde hoje em Timor-Leste "têm que começar a actuar com autonomia e dureza" em toda a área da capital timorense, Díli, para restabelecer a lei e ordem, afirmou hoje José Ramos-Horta.

O ministro dos Negócios Estrangeiros e Defesa timorense confirmou hoje à agência Lusa que essa será a posição que defenderá num encontro marcado para a manhã de quinta-feira com os diplomatas e responsáveis da Defesa de Portugal, Austrália, Nova Zelândia e Malásia.

O encontro, explicou, definirá a forma e o método como as forças dos quatro países actuarão no terreno, com os efectivos da Austrália, Malásia e Nova Zelândia a funcionarem sob um comando único australiano e a GNR a actuar de forma "autónoma" e reportando directamente ao presidente da República Xanana Gusmão.

A GNR, afirma o governante, deve agir "com dureza, com firmeza e sem restrições em toda a cidade de Díli".

José Ramos-Horta disse "respeitar" a decisão do governo português de colocar a GNR fora do comando australiano da força internacional, afirmando que é essencial chegar a acordo na segunda- feira "sem falta", para que a GNR "possa ser operacional".

"Não poderemos permitir que face a algum impasse diplomático a GNR não opere", disse à agência Lusa.

"Os parceiros internacionais sabem da especialidade, da reputação da GNR e sabem que a GNR pode dar uma enorme contribuição a todos eles e, sobretudo, ao povo de Timor-Leste e à cidade de Díli para se parar com este vandalismo", afirmou.

A necessidade da actuação da GNR com "flexibilidade total" foi vincada hoje pelo governante timorense depois de uma viagem de 90 minutos, ao final da noite, que a reportagem da Lusa acompanhou, a alguns dos pontos mais tensos da cidade.

O governante timorense, guardado por soldados australianos de elite, e viajando num carro "civil", ouviu repetidas queixas sobre a falta de protecção dada pelos 1.300 soldados australianos já na cidade, considerando essa situação "inaceitável".

"É obvio que há uma frustração cada vez maior da parte da população timorense ante a aparente impunidade com que esses grupos continuam a incendiar e perante a aparente inoperância de quem de direito", lamentou.

Apesar de notar algumas melhorias na situação que se vive na capital, José Ramos-Horta afirmou que "continuam a haver incêndios e conflitos", com a população "a queixar-se que continuam a ver forças australianas a não intervirem, com os incidentes a acontecerem debaixo do seu nariz".

"Isso está a causar perplexidade e frustração enorme no seio da população e isso é perigoso, porque a população começa a sentir-se defraudada e não tem confiança nas forças internacionais", sublinhou.

Ramos-Horta recorda que a grande expectativa gerada ante a entrada das tropas australianas "começa a ser defraudada", sentimento que lhe é transmitido tanto em Díli como no interior do país, sendo "essencial lidar com a situação para que não haja uma descrença total e se comece a questionar a presença das forças internacionais aqui".

"Agora a expectativa está toda virada para a GNR. Esperamos que a GNR possa ter total flexibilidade operacional para que possa ser eficaz", afirmou.

O périplo nocturno teve início numa loja na zona da Areia Branca, alvo de um ataque incendiário ao início da noite de hoje. Logo aí Ramos-Horta deu nota da irritação instalada entre populares e partilhada pelo próprio ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros.
"Os filhos da mãe, lá de cima, atacaram isto", refere, olhando para a montanha, iluminada pelos focos das armas dos soldados australianos que o acompanham.

Em cada paragem repetem-se as queixas da população. Ramos- Horta saltava do português para o inglês e para o tétum, afirmando, à frente da sua própria escolta: "É sempre a mesma coisa. Os australianos não actuam".

Nos locais visitados amontoavam-se deslocados, às centenas, com carências alimentares, sinais da prevalência de algumas doenças e, no caso do antigo complexo do Museu de Díli, hoje sede da instituição cultural Arte Moris, dormindo ao som regular de confrontos e da destruição de casas nos bairros vizinhos.

Ramos-Horta lembra que repetidamente pediu para que carros que circulam durante a noite sejam revistados, o que continua a não acontecer: "Já avisei várias vezes os australianos de que devia haver uma actuação muito mais robusta".

"Disse para revistarem, de alto a baixo, táxis, carrinhas e camiões, sobretudo que levem grupos de jovens", afirmou, "procedendo à detenção de qualquer pessoa que tenha armas consigo".
Sobre a origem e intenção dos ataques, o governante reportou à Lusa as informações de que dispõe: "São grupos organizados e as medidas têm que ser muito drásticas, de mão firme. Isto é puramente criminoso e é inaceitável que certos elementos continuem a fazer isto".

José Ramos-Horta garante que são atingidos alvos "seleccionados", maioritariamente casas e estabelecimentos comerciais "propriedade de populações da zona leste do país", aludindo à acção de elementos "vindos de Ermera e Aileu", a sudoeste da capital.

"E não pode ser só vandalismo. Têm que ter motivação política para destabilizar o país. Se fosse puro vandalismo atacariam qualquer propriedade. Isto são actos criminosos com uma agenda política para destabilizar o país", sublinhou.

Lusa/Fim

2 comentários:

Anónimo disse...

Porque é que estou com a sensação que esta noite toda gente passou mais ou menos pelas brasas sem grandes sobressaltos em Dili? Malai calado entre as 00:26 e as 7:30, Agência Lusa ainda sem notícias (deve estar no pequeno-almoço). Por estas bandas são horas de recolher e dormir pouco (não há sábado sem sol...) Bom dia Timor Leste e a paz e a descontração comecem a regressar. Até já

Anónimo disse...

INSIDE PCIJ: Stories behind our stories
A Filipina caught in the East Timor violence

June 1, 2006 at 4:00 pm · Posted by Alecks Pabico
Filed under In the News

EAST Timor (Timor-Leste to East Timorese) has again plunged into
violence as a week of bloodshed has already claimed at least 27 lives
while 70,000 people have reportedly sought refuge in churches,
embassies, United Nations shelters, the airport, and seaport around
the smoldering capital of Dili.

The latest round of violence brings to mind the orgy of violence
perpetrated by militias identified with the Indonesian military that
preceded East Timor's declaration of independence from Indonesia in
2002 following a U.N.-supported referendum three years earlier.

Sparked by the firing of 600 disgruntled soldiers from the
1,400-strong East Timorese army last March, the unrest started with
deadly riots staged last month by the dismissed troops, who are
threatening to wage a guerrilla war if they are not reinstated.

On Tuesday, Associated Press reporter Anthony Deutsch said they
attacked army soldiers, triggering the latest violence that has now
spilled over to the general population, which is divided into
pro-Indonesian and pro-independence camps. The AP report said that
East Timor, one of the world's youngest nations, is in danger of
plunging into a civil war.

Caught in the center of the storm is a Filipina, Jacqueline Siapno,
who works as a lecturer in political science at the University of
Melbourne. She moved to East Timor in 1999 and is now married to an
East Timorese, who happens to be a prominent opposition leader. East
Timor Prime Minister Mari Alkatiri has called the violence a plot to
overthrow him and accused the opposition, including Siapno's husband
Fernando de Araujo and her, of fomenting the unrest.

Below is her story:

We had a house in Dili

A few days ago my husband, Fernando de Araujo - leader of the Democrat
Party (PD) in Timor-Leste - and I, learned from a friend that our
family home in Dili had been burned to the ground. A group of men had
visited our house three times previously in the days beforehand, on
two occasions issuing threats, and on the third smashing everything
inside the house. On their final visit they fired shots at our friends
who had been guarding it for us, forcing them to flee, and then set
our home alight.

Obviously in the violence that has taken place in the past few days in
Dili this fate, and worse, has befallen many other East Timorese
families. Some people have commented to me that it is 'just a house',
which can be rebuilt and that at least we are not dead. It is true
that we can, and will, build another house. But I want to place the
destruction of our home in some context, both political and personal.

Leaders within the East Timorese government, the F-FDTL
(Falintil-Armed Forces of Timor Leste) and many media sources have
characterised this violence as the random acts of the 'irrational' and
'emotional' 'masses' acting without reason, and without direction.
This is simply not true. Many of the arson attacks witnessed in Dili
in the past few days have been ordered by government figures and
military commanders, carried out systematically by hiring civilians to
disguise the real criminals behind the acts.

The targeted nature of many of these arsons is reflected in the high
profile names of many of the victims: the families of Minister for
Internal Affairs (including police) Rogerio Lobato; Commander of the
PNTL (National Police of East Timor) Paulo Martins; and PNTL Deputy
Commander Ismail Babo have all suffered attacks on their homes.

Attributing the violence to anonymous masses is a means of avoiding
accountability by those responsible. Unidentified masses cannot be
taken to the International Criminal Court. Individuals, however, can,
and those individuals who must face justice over these attacks are the
Prime Minister Mari Alkatiri himself and leaders within the F-FDTL.
Entrusted with the responsibility for security, the government and
F-FDTL have violated this trust by arming civilians and terrorising
the communities they supposed to be protecting.

Unwilling to take responsibility for the current situation in
Timor-Leste, the Prime Minister Mari Alkatiri (The Age, May 15,
'Lecturer "sexed up" East Timor violence') and Foreign Minister Jose
Ramos Horta, (who later retracted when he visited Suai), have accused
my husband and I of 'instigating unrest'. This is a disgraceful
fabrication. I am a scholar. I spend every day of my life trying to
get people to think and reflect, discuss and analyse, in order to
understand and resolve, not create conflict. What I have called for is
a proper investigation into the killings at Taci Tolu on 28 April. The
government said only five people were killed. Numerous reports from
eyewitnesses have said the number was far higher. All I have demanded
is transparency and accountability.

Some commentators have falsely implied that Fernando is supporting
violent means. He is not. Whilst serving seven years in Cipinang
prison, Fernando de Araujo was classified by Amnesty International as
a prisoner of conscience. To attain this status, one must never have
advocated violence as a political weapon. Far from advocating
violence, Fernando supports the petitioners as victims of state
violence. It needs to be remembered that the original 591 petitioners
left their posts unarmed. They were hunted by F-FDTL soldiers, and
only later, after an unknown number of petitioners had been killed,
did members of the Rapid Response Unit (UIR) police and Military
Police (PM) leave their barracks with weapons to defend them. What
Fernando and the leaders of other political parties share in common
with the petitioners is that they have all been marginalised and
disempowered by the current government through the use of violence and
intimidation.

Our lives have been in serious danger since 1 pm, on April 28. This is
not just a conflict between the F-FDTL (army) and PNTL (police), or
between easterners and westerners- it is about a government that has
thoroughly discredited itself through its actions lashing out and
looking for scapegoats. Our house was destroyed as part of a concerted
attempt by the government to eliminate political opposition prior to
the 2007 elections.

The house Fernando and I built with help from so many people was a
small but special place for many reasons. When Fernando was released
from prison in 1998 he had nowhere to go and felt like he wanted to go
back to Cipinang. With material and moral support from many Timorese
and foreign friends, we struggled to create a warm and welcoming space
that brought lots of different people together from all over
Timor-Leste and also overseas. Students, scholars, NGO workers,
politicians (not only from PD), Falintil veterans visited and stayed
at our home which was also my son's playgroup. The bricks and mortar
can obviously be replaced but the attack was against more than that.
It was also an assault on our rights to free and democratic political
participation, and to feel secure in Timor-Leste as part of a
pluralist political landscape.

The flood of kind offers to help us rebuild our home and our lives in
Timor-Leste, gives us much strength and proves that this violence will
fail to achieve its aims.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.