domingo, julho 09, 2006

Novo primeiro-ministro de Timor-Leste define prioridades

Entrevista de Ramos-Horta ao PÚBLICO
Novo primeiro-ministro de Timor-Leste define prioridades

08.07.2006 - 16h02
Adelino Gomes (PÚBLICO)

Garantir a segurança em Díli; assegurar o regresso dos deslocados às suas cidades e casas; reabrir as escolas; fazer acertos no Orçamento Geral de Estado e promover o diálogo para a reconciliação. Estas são as prioridades de José Ramos-Horta, desde hoje o novo primeiro-ministro de Timor-Leste.

Numa entrevista ao PÚBLICO, Ramos-Horta diz que não há alteração nenhuma a fazer na política petrolífera, porque todo esse processo “foi seguido com agilidade pelo dr. Mari Alkatiri” e com o seu apoio.

O primeiro-ministro de Timor-Leste diz que vai continuar a apostar “nas boas relações com a Austrália, a Indonésia, a China, o Japão, os EUA, Cuba, assim como com um dos países mais nossos amigos, que é Portugal, bem como com a CPLP”.


(A entrevista será publicada na íntegra na edição de amanhã, domingo, do PÚBLICO)

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3 comentários:

Anónimo disse...

E MAIS NADA. ASSIM MESMO!!

Anónimo disse...

Transcrição da entrevista que não está on-line:


O primeiro-ministro indigitado de Timor, José Ramos-Horta, quer ter o Governo formado até ao fim da semana, fazer resgressar os deslocados, reabrir as escolas e lançar um “diálogo nacional para a reconciliação”. A política petrolífera não será mexida.
Por Adelino Gomes, Público, 09/07/06

“Espero não trair a confiança de tantos timorenses”

“O pano de fundo” em que vai tomar posse, amanhã, não deixa margem a José Ramos-Horta para sentimentos de alegria ou de orgulho. Isso foi na cerimónia da independência em 2002. Hoje, “é a tragédia e são as dificuldades que nos assolam”, disse ao Público, ontem, ao fim da manhã (início da noite em Timor-Leste) nas primeiras declarações após a sua indigitação para primeiro-ministro do segundo Governo constitucional de Timor-Leste. Entrevista dada por telefone (música clássica em fundo), a partir da residência, em Dili, do Prémio Nobel da Paz.

Público – Quais as prioridades deste Governo?

José Ramos-Horta - Há várias. E têm que ser todas executadas em paralelo. Consolidar a segurança em Dili, de forma a podermos fazer regressar dezenas de milhares de deslocados a suas casas; constituição do Governo até ao fim da semana que vemacerto no orçamento geral do Estado até ao fim do mês; reabrir as escolas em Dili; tentar executar, no imediato, programas que possam acudir às maiores necessidades. Um exemplo: a limpeza da cidade e outras pequenas obras que não exijam muita burocracia; e lançar o diálogo nacional para a reconciliação.

Público – Como vai ser resolvido o problema dos ex-peticionários?

José Ramos-Horta - Essa é uma das tarefas em que estou empenhado, em sintonia como Presidente da República. Assentará na criação de uma Comissão Nacional para o Diálogo, que envolverá os dois bispos, a sociedade civil e todas as partes afectadas, nomeadamente os peticionários, os militares , e elementos da Polícia Nacional, vítimas deste conflito. Vai levar meses. Calculo entre três e seis meses, o tempo necessário para colocarmos de pé as várias etapas deste processo.

Público – Têm sido ouvidas várias críticas à benevolência com que, por exemplo, os majores que abandonaram a cadeia hierárquica têm sido tratados.

José Ramos-Horta - Obviamente que o primeiro-ministro Mari Alkatiri e o ex-ministro (do Interior) Rogério Lobato, por serem altos responsáveis do Estado, têm maiores responsabilidades. Daí que o Procurador-Geral da República, apoiado por procuradores internacionais cuja isenção e imparcialidade respeitamos, tenham actuado precisamente em relação às pessoas que consideraram dever actuar. Em relação a pessoas que estão na posse de armas mas que não cometeram crimes, as armas são recolhidas e depois a Justiça segue o seu curso. Pessoalmente desconheço se o major Reinado já foi ouvido, mas julgo que o senhor Railós e os seus adjuntos (responsáveis do grupo paramilitar formado no âmbito da Fretilin com o alegado propósito de liquidar adversários do primeiro-ministro) já foram.

Público – Em entrevista recente, preconizou uma solução política para este último caso.

José Ramos-Horta - Obviamente que (uma solução política) deveria abranger todos. Precisamos de ter em consideração a fragilidade deste país, a complexidade de toda a situação. Mas tudo deve ser feito sem ofender os princípios da justiça. O que é preciso é encontrar o equilíbrio entre a Justiça e a necessidade de preservar a estabilidade neste país.

Público – Disse-se inúmeras vezes que a razão profunda desta crise podia ser encontrada no petróleo. Que alterações vão ser introduzidas na política de exploração?

José Ramos-Horta - Não há alteração nenhuma, porque todo este processo foi seguido com agilidade pelo dr. Mari Alkatiri com o meu apoio e de pessoas totalmente insuspeitas, nomeadamente grandes especialistas do Direito Internacional de países como a Noruega, Austrália e EUA.

Público – E na política externa? Vários críticos consideram, tendo em conta actuações nesta crise quer do Presidente Xanana quer do seu ministro dos Negócios Estrangeiros e agora PM indigitado, que pode haver um realinhamento amplamente favorável à Austrália.

José Ramos-Horta - Não haverá a mais pequena alteração, tendo sido eu o arquitecto dessa política externa. Ela, aliás, contou sempre com o apoio do Presidente da República, do Parlamento e de Mari Alkatiri. O seu carácter dinâmico, inteligente e pragmático tem-nos valido (relações de) confiança na região e no mundo. Vamos continuar a apostar em boas relações com a Austrália, a Indonésia, a China, o Japão, os EUA, Cuba, assim como com um dos países mais nossos amigos que é Portugal, e com a CPLP.

Público – O espectro de eleições antecipadas está afastado?

José Ramos-Horta - Sim. A ideia (defendida por Xanana Gusmão) já está posta de lado.

Público – No plano político-pessoal como vai sentir-se na tomada de posse: com alegria e orgulho porque alcançou um cargo que ambicionava? Ou é uma caminhada em direcção à Presidência?

José Ramos-Horta - Com total honestidade, só posso dizer que quando for empossado o meu sentimento não será de alegria ou de orgulho. O pano de fundo é a tragédia e as dificuldades que nos assolam. A cerimónia de 20 de Maio de 2002 (proclamação da independência em Taci-Tolo, perante Kofi Annan, os presidentes de Portugal e da Indonésia, o ex-presidente dos EUA, Clinton) sim, foi de expectativa, de orgulho e de alegria. Segunda-feira não. Espero é não trair a confiança de tantos timorenses de todos os quadrantes, que nas últimas horas me enviaram centenas de mensagens. Nem uma única era negativa. Todas de apoio. Não esperava. É isso o que mais me preocupa.

Malai Azul 2 disse...

Obrigado, Margarida!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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