quarta-feira, julho 19, 2006

O que diz a esquerda sobre Mari Alkatiri - Tradução da Margarida

Do Green Left Weekly, Julho 19, 2006.

EAST TIMOR: O povo paga o preço
Avelino Coelho da Silva, Dili

O conflito que se levantou recentemente em Timor-Leste causou mais sofrimento aos pobres da nação, confrontando-os com um futuro incerto económico e político.

Este conflito não teria acontecido se todos os políticos do país tivessem posto os interesses do povo primeiro e não o seu próprio desejo pelo poder. As suas atitudes resultaram em centenas de milhares de pessoas terem perdido as suas casas, outras possessões e o seu modo de vida. Agora têm de viver em tendas fornecidas pela Alta Comissão para Refugiados das Nações Unidas.

...
Contudo este assunto étnico nunca foi um problema sério neste país. Durante as últimas semanas, cresceu tão depressa, resultando na ruptura de boas relações de vizinhança que tinham existido aqui entre o povo Timorense de várias etnias e religiões. Questões acerca do Loro Sae versus Loron Monu, ou leste versus oeste.

Isto é realmente uma tragédia mas aconteceu.

Na realidade corrente, vemos tanta ironia, como acontece no decurso da história e das revoluções. Se lermos alguns cartazes e bandeiras que apareceram nas recentes manifestações, podíamos rir ou podíamos ficar seriamente preocupados. Por exemplo, havia cartazes onde se lia “Viva capitalismo! Fora com os comunistas!” Portanto a nossa pergunta é: são os políticos de Timor-Leste tão ignorantes? Sabiam as pessoas que escreveram esses cartazes o que é que queriam realmente?

Podemos aqui responder ambas as coisas sim e não. Sim, porque os que estavam detrás das manifestações estavam na verdade a tentar pintar o antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri [que foi pressionado para resignar em 26 de Junho] como um comunista — que havia um comunista a governar o país. E podemos também responder “não” porque os jovens que carregavam esses cartazes eram de aldeias pobres e de famílias da cidade que não têm qualquer familiaridade com ideias tais como capitalismo versus comunismo. Foram na verdade algumas políticas muito não -comunistas — políticas sem qualquer carácter de esquerda — que criaram esta mais pobre classe de jovens.

Para alguém ser actualmente classificado como um comunista, as suas políticas devem mostrar alguma similaridade com ideias comunistas. Contudo Alkatiri, e o Governo da Fretilin que liderou, não têm o mínimo colorido de comunista. O sistema social que tem sido desenvolvido é um baseado na existência de classes ricas e pobres. O governo de Alkatiri não implementou políticas com o objectivo de terminar esse fosso. Pior ainda, as políticas do governo de Alkatiri pioraram a situação, com o fenómeno do amiguismo exacerbando o fosso entre ricos e pobres. É um segredo público que os funcionários mais importantes tenderam a facilitar o amiguismo.

As políticas económicas de Alkatiri e da Fretilin tenderam a promover a privatização. Não houve nenhuma indicação que o governo de Alkatiri está interessado na nacionalização de nenhuma empresa privada. Não houve sinais de uma orientação de esquerda para a reforma agrária. O fosso entre ricos e pobres cresceu. A agricultura foi abandonada e assim o país está totalmente dominado pelo comércio e pelos comerciantes privados. Os agricultores aldeãos estão mais pobres com estas políticas capitalistas. Pode-se ver a ironia deles carregarem com cartazes declarando “Viva capitalismo! Abaixo com o comunismo!”

Os bens públicos como a electricidade, telefone, transporte terrestre e marítimo são todos controlados por firmas privadas estrangeiras. Todas as necessidades do governo são também satisfeitas por empresas privadas, não por companhias públicas ou cooperativas.

Alkatiri e a Fretilin não organizaram o povo de forma que se esperava dum partido de esquerda. A Fretilin tende a transformar-se num partido da elite, que mobilizará o povo de tempos a tempos para defender os interesses do partido enquanto ignora os interesses actuais do povo. A Fretilin sob Alkatiri divorciou-se do povo e os seus líderes adoptaram o estilo de vida da pequena-burguesia.

No campo cultural, os membros da Fretilin e do seu Gabinete têm orientação religiosa. Não mostram sinais de quererem lutar contra a cultura e a religião de Timor-Leste. A estação Estatal de rádio e televisão dá mais tempo à programação religiosa do que à educação politica do povo.

A hostilidade contra Alkatiri vem da luta pelo poder entre os políticos da elite.

Vários partidos e os seus líderes têm receio das eleições por que sabem que não conseguem derrotar a Fretilin. Nas últimas eleições locais, a nível dos suco (aldeias) e das aldeias (sub-aldeias), a Fretilin ganhou 80% das posições. Estes resultados indicam que o país permanecerá dominado pela Fretilin até a consciência política do povo se desenvolver mais e decidirem apoiar partidos baseados em programas políticos e ideologia e não baseados na história ficcionada de um movimento ou de um partido.

Foram estes factores politicos, suplementados pelos interesses de países vizinhos em relação ao petróleo e ao gás, que se desenvolveu o processo de pintar Alkatiri como um “comunista”. Havia a esperança que isso pudesse ser usado para mobilizar as massas para derrotar Alkatiri e a Fretilin nas próximas eleições.

Um outro factor que contribuiu para esta situação foi o próprio estilo de liderança de Alkatiri. Ele usa uma abordagem confrontacional contra toda a gente e parece arrogante.

O que aconteceu em Timor-Leste não foi o caso de um governo de esquerda de Alkatiri e da Fretilin ser forçado a sair do poder por mobilizações de massas. Alkatiri caiu porque era detestado por alguns outros políticos da elite e porque a Fretilin não foi capaz de avançar com outra pessoa capaz de ser um primeiro-ministro e de formar um novo governo. Assim alguns ainda esperam que a Fretilin possa ser destruída nas próximas eleições. È isto de que se trata: a direita contra a direita.

Depois de Alkatiri sair do seu trono, espalhou-se a especulação sobre quem poderia ser o seu substituto. O jornal Suara Timor Loro Sae relatou que os líderes de várias manifestações começaram a promover Mário Carrascalão, um líder do Partido Social Democrata. Começaram a dizer que José Ramos Horta já não tinha mais o apoio do povo. Porque é que diziam isto?

Inicialmente, foi declarado [num discurso do Presidente Xanana Gusmão] que a liderança da Fretilin não era legitima, porque o congresso da Fretilin usou o braço levantado e não o voto secreto na eleição. Contudo as negociações avançaram com a liderança da Fretilin e foi conseguido um compromisso. Com este compromisso, Horta emergiu como o novo primeiro-ministro. Este foi o resultado de um compromisso entre a elite politica. Os políticos da oposição ficaram indignados e começaram outra vez a levantar críticas.

As politicas esboçadas por Horta no seu discurso de nomeação indica que não haverá mudanças substanciais na política. Trabalhando de perto com o FMI e o Banco Mundial tornou-se uma parte da realidade aqui. As promessas de construção de casa, de construir uma “cidade académica” e de distribuir motociclos aos responsáveis de suco levantam falsas esperanças. Não há sinais de políticas que possam tirar os Timorenses da sua miséria económica.

Alkatiri caíu, mas o governo de Horta é um governo da Fretilin. O presidente da Fretilin, Lu’olo, deixou claro que Horta se deve encontrar todas as semanas com o presidente e o secretário-geral da Fretilin e todos os meses com a comissão política nacional da Fretilin. Horta tem-se distanciado sistematicamente dos partidos da oposição. Horta espera permanecer primeiro-ministro depois da eleição ganhando o apoio da Fretilin.

Quem é que ganhou e quem é que foi derrotado? O povo é outra vez o perdedor.

[Avelino Coelho da Silva é o secretário-geral e o comissário político nacional do Partido Socialista de Timor.]

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9 comentários:

Anónimo disse...

Mas a lógica de quem perde é sempre o povo, não é nada de novo. Com políticos assim outra coisa não seria de esperar e até tinha sido já anunciado pelos próprios.

Este blog detèm o silêncio que esperemos anime a partir do dia de hoje.

Com tamanha equipa de "luxo", veria com maus olhos que aqui não venham parar as estratégias elaboradas de uma defesa que irá puxar os cordelinhos da enriçada Constituição. Pois, respeitem-na!

Vamos ver.

Anónimo disse...

New democracy needs supportive neighbour
There’s more, much more, to the East Timor crisis than bad governance, says Sahe Da Silva
THE political unrest in East Timor has left the front pages of Australian newspaper and some stability appears to have returned since the appointment of new Prime Minister Jose Ramos Horta last week.
But there is still much work to be done to ensure the fledging democracy develops into a strong, and peaceful, neighbour.
For many Australians, drawn to the plight of the East Timorese during their campaign for independence, the recent violence might be puzzling.
It has been easy for the Australian Government and the media to simply blame former prime minister Mari Alkatiri for the breakdown of law and order in East Timor but the crisis goes much deeper and the issues take in race, personality and oil negotiations.
This year’s uprising was the fourth attempt to destabilise the East Timor Government since the FRETILIN party won power in 2001, in what was declared a free and fair election by the international community. FRETILIN won 55 of the 88 parliamentary seats, with others taken by the Democratic Party (seven seats), the Social Democratic Party and the Social Democratic Associations (six seats each), and another seven minor parties.
Now former interior minister Rogerio Lobato, along with Alkatiri, has been accused of creating a death squad in order to intimidate Alkatiri’s political opponents. The main evidence is 11 weapons, surrendered with much pomp and fanfare on July 12 by Vincente de Concecao (Commander Railos) to the Prosecutor-General.
When the matter comes to court, the Prosecutor-General is bound to ask which political opponents Railos had been ordered to threaten.
Think about it. Does it make sense that FRETILIN would waste time and energy harassing such a disparate and disjoined opposition?
Moreover, most of the 150,000 internally displaced persons are FRETILIN supporters whose houses were burnt down and whose lives were threatened by young hoodlums organised to destabilise the country.







These same FRETILIN supporters were asked by the leadership of the party to refrain from retaliation as confrontation could escalate into civil war. As in previous destabilisation in 2002, 2004 and 2005, it rested with the Fretilin members to act responsibly under the most extreme provocation.
If Railos was, as he has claimed, employed by FRETILIN to intimidate opponents, where was he when its members were under siege in Dili?
If, as has been reported, Railos’s group handed in 11 rifles (but no ammunition) on July 12, where are the other 19 rifles that ABC reported Liz Jackson showed us on her Four Corners program? Jackson reported that Railos had 30 men under his command all armed with weapons handed over by Lobato on the orders of Alkatiri. She presented a list of the guns’ serial numbers as proof that Railos was genuine.
An the camera never lies?
Let us say that Lobato will have his day in court and evidence will be presented to support his claim that the Heckler and Koch 33 automatic rifles were given to Railos and his men in January 2004 in order to assist and train the Border Patrol Unit in bushcraft and guerrilla tactics.
As for former prime minister Alkatiri, he resigned on June 26 to forestall the threatened resignation of President Xanana Gusmao, which would have precipitated a deeper crisis for Timor-Leste.
He did not resign because of the relatively small protests or the allegations made against him by Railos. (In any event, Railos’s allegations against Alkatiri remain just that. Alkatiri to date has no case to answer and has only been summoned by the Prosecutor-General to provide evidence in relation to Lobato’s trial.)
In response to the crisis, FRETILIN made its position very clear during its 20,000 strong rally on June 28-30.
During that rally, FRETILIN sent a message to the President and to the nation calling for peace, the rule of law, the end of violence and respect for the Constitution.






The FRETILIN rally, 10 times larger than any anti-Government rally, was entirely peaceful. However, in retaliation, anti-Government thugs burnt down homes of FRETILIN leaders in Dili and other businesses linked with FRETILIN, and then attacked the main TV and radio station to ensure that it did not broadcast reports of the FRETILIN rally.
It is FRETILIN and its leaders that deserve the strong support of all democratic people and organisations in Australia, to help Timor-Leste recover from this serious crisis.
East Timor needs Australia’s support to ensure that the next elections are constitutional and free of manipulation and that its democratically elected government retains power through these early teething problems.

Sahe Da Silva is the Fretilin representative for NSW. He will speak at Politics in the Pub tonight (6.30pm) at the Hamilton Station Hote.
Published in the Herald in Newcastle on 18 July 2006.
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Anónimo disse...

Sahe da Silva! Any relation with estanislau? Son? You speak such a load of crap its not even funny. Going to the pub tonight are ya? Have one on me and keep the crap coming! Must have had a few in him when he wrote those lines. Hehehe...

Anónimo disse...

Excelente comentário!
Algumas questões são centrais no exercício da democracia: concurso público para os cargos do Estado e justiça acessível a população e em todos os níveis. Com estas medidas afasta-se a prática do amiguismo que tanto compromete a confiança da população no governo.
Outro comentário importante que o Avelino coloca é a questão fundiária, juntamente com a política de segurança alimentar.
Não se enganem, meus amigos, a liberalização dos mercados punirá aqueles que não estiverem tecnologicamente preparados, ou seja: 3/4 do mundo. Será necessário para fugir a esta triste realidade, além de uma reforma agrária, garantir preço mínimo para o produtor e impor algum protecionismo para não destruir a agricultura. A mais importante fonte de emprego está na terra, mais ainda que na indústria.
O comentário de Avelino deveria ser mais aprofundado.
Alfredo
Brasil

Anónimo disse...

Would the anonimous on 11:58:53 PM show up at the pub and face Sahe da Silva? Or are you just a coward who does a lot of talk but is too affraid to reveal yourself?

Sahe, good on ya mate. Keep it up.

Anónimo disse...

"Sahe Da Silva is the Fretilin representative for NSW. He will speak at Politics in the Pub tonight (6.30pm) at the Hamilton Station Hote."?

Couldn't expect any better from pub "polititians". One more round!

Anónimo disse...

Can I have a VB please?

Anónimo disse...

"The FRETILIN rally, 10 times larger than any anti-Government rally,"

Such crap!!

"If you drink and drive you're a bloody idiot"

Anónimo disse...

Ao anonimo das 2:22:
Nao, nao podes ter uma VB, porque ja es BV: BURRO de VERDADE!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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