quarta-feira, julho 12, 2006

Timor-Leste ainda precisa do negociador Mari Alkatiri

Tradução da Margarida:

Jakarta Post
Kristio Wahyono, Jakarta
11.07.2006

José Ramos Horta é o novo primeiro-ministro de Timor-Leste, substituindo Mari Alkatiri, o que dimunuirá a probabilidade de se tornar outra vez primeiro-ministro em 2007.

Contudo, o povo de Timor-Leste somente repara num dos lados da moeda, que são a série de conflitos internos que começaram com o despedimento de 600 membros das forces armadas de Timor-Leste, o assassinato de cinco polícias desarmados e pelo menos 21 civis, o queimar e as pilhagens de casas e lojas, 150,000 pessoas que fugiram de casa para campos de refugiados, pessoas obtendo armas ilegais para disparar contra os rivais políticos da Fretilin e uma eleição anti-democrática do secretário-geral do partido.

Mas o outro lado da mesma moeda é muitas vezes visto por cima.

Apesar de desde 1975 Alkatiri não ter estado envolvido na luta da guerrilha, como Xanana Gusmão (presidente), Lu Olo (presidente do Parlamento) ou Taur Matan Ruak (o comandante das forças de defesa), a sua posição como secretário-geral da Fretilin desde 2000 permitiu-lhe tornar-se primeiro-ministro, indicando o brilho da sua estratégia depois de ter ganho as eleições gerais de 2001/2002.

Com isso ele atingiu a mais alta posição do governo e tentou fazer do papel do presidente algo “sem poder”, de acordo com a constituição, o que também mostra a sua aptidão politica.

Talvez fosse por causa da euforia da independência que Alkatiri foi capaz de criar e ganhar vasto e forte apoio político para a Fretilin, que também lhe providenciou apoio similar para ele próprio.

Num seminário no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais em 16 de Junho de 2006, quatro pessoas de recursos, incluindo eu próprio, concordámos que Mari Alkatiri não só possuía uma grande dose de nacionalismo como também tinha a capacidade para instalar o nacionalismo noutros, ao modo dos líderes Marxistas e Leninistas.

Deve ser sublinhado que a presença forte de Alkatiri nos corpos legislativos e executivos se deve muito ao apoio de certos países com os seus interesses próprios.

Alkatiri está completamente ciente de que quando Timor-Leste foi uma provincia da Indonésia, a Austrália e a Indonésia cooperavam na exploração do petróleo e do gás natural, num campo de petróleo e gás chamado o Greater Sunrise, localizado no Timor Gap. De acordo com a divisão dos lucros, a Indonésia receberia 10 por cento do rendimento do campo, com o resto a ir para a Austrália, apesar do facto de o campo estar duas vezes mais perto de Timor-Leste do que está da Austrália. Bayu Undan e outros campos de petróleo e de gás foram divididos ao meio. Depois de Timor-Leste ter ganho a independência, uma delegação Australiana insistiu em ter 82 por cento do rendimento do campo Sunrise, enquanto Alkatiri, um negociador duro, exigiu uma divisão ao meio.

Apesar do facto do Tratado sobre Certos Arranjos Marítimos no Mar de Timor (CMATS) ter sido assinado por Alkatiri e a sua contraparte em 12 de Janeiro de 2005, no seguimento de pressões de países ocidentais para assinar imediatamente o Tratado interino do Mar de Timor depois de ter ganho a independência, Alkatiri ganhou alguma satisfação porque cinco meses depois da independência, uma Lei sobre as Fronteiras Marítimas na Convenção das Nações Unidas sobre a Lei do Mar (UNCLOS) foi estabelecida, assegurando a exigência de Timor-Leste de 200 milhas náuticas de zona económica exclusiva em todas as direcções.

Alkatiri também rejeitou um Acordo de Unificação Internacional (IUA) para o Campo Greater Sunrise, que é maior que o campo Bayu Undan e escarrapacha-se em cima da Joint Development Area. A retirado do governo Australiano das negociações da UNCLOS no Tribunal Internacional de Justiça endureceu a atitude de Alkatiri em relação ao comportamento da Austrália na usurpação do controlo da maioria dos recursos offshore de petróleo e de gás de Timor-Leste.

Numa entrevista, Alkatiri disse que acreditava que estava a ser alvejado pela Austrália por causa das suas negociações duras sobre as reservas de petróleo e gás no Mar de Timor.

Infelizmente, Alkatiri definitivamente tem poucos amigos. Fez um erro em procurar uma relação mais próxima com Cuba, o que aborreceu os Estados Unidos, em fazer inimigos os lutadores da liberdade, em se opôr ao conceito de reconciliação de Xanana, em obrigar os jovens a falar português, em ter uma atitude distante com a Igreja e em tomar uma atitude dura e inflexível com o Banco Mundial, que queria dar empréstimos a Timor-Leste. Todas estas coisas aceleraram a sua queda.

Apesar de Alkatiri poder não ser um bom comunicador, deve ser realçada que ele é um excepcional negociador. Mais cedo ou mais tarde o novo governo do seu pequeno país enfrentará uma pressão mais forte doutros países.


Timor-Leste ainda precisa de um negociador como Mari Amude Alkatiri, que tem demonstrado a sua vontade de suportar tremendas responsabilidades para o povo de Timor-Leste.


O escritor foi um antigo co-director do Secretariado Conjunto da Comissão de Verdade e Amizade Indonesia-Timor Leste (2005) e representante Indonésio em Timor-Leste (2000-2003). Está disponível em kristiowh@hotmail.com.

8 comentários:

Anónimo disse...

Endividen-se até o pescoço com o Banco Mundial, meus senhores, e vejam aonde vão parar: com as calças na mão e dependentes do capital internacional.
Por que foi um erro TL se aproximar de Cuba? Os EUA ofereceram médicos a custo módico para TL? São referência democrática os "lutadores da liberdade", uma nação com apenas dois partidos políticos que se alternam no poder ditando regras desastradas e infernizando meio mundo. São referência para para quem? Para Europa? Não creio.
Os Eua são um dos maiores consumidores de energia do mundo e para isso tornam refém o planeta inteiro. Também são os que mais poluem o ambiente. Depois vem dizer para a AL, em particular para o Brasil, que a Amazônia tem que ser internacionalizada.
Olho vivo timorenses!
Alfredo
Brasil

Anónimo disse...

Alkatiri é um homem fora de tempo em Timor.
O seu grande erro político foi não ter percebido logo no imediato e que é um homem só numa sociedade de cariz tribal e com dirigentes e classe política um mais "evoluidos", apenas na aparência.
Um homem como Alkatiri só poderia sobreviver se estivesse apoiado por uma elite ao seu nível e coesa e isto é um cenário impossivel em Timor.
Alkatiri vai sofrer mas vai ver o seu povo hipotecado e a continuar a viver na miséria da ignorância.

Anónimo disse...

ALKATIRI??????
HE IS FINISH........n as soon he will stay in the Jail....forever

Anónimo disse...

Tenho uma solução pertinente. Coloquem o sr. Alkatiri assessorado por todo o núcleo duro em Wall Street. Tão bom negociador que é, seria ali certamente mais útil e menos problemático. Teria pessoas ao seu nível e com capacidade de resposta à altura.

O povo de Timor sempre esteve à altura de se bater contra os seus opressores, invasores e ademais que "gostam e escolheram Timor para trabalharem", pelo que não vejo grande preocupação em uma vez mais tomarem as decisões que quiserem tomar.

Assim como se até fosse uma coisa absolutamente normal, vai daí e trucas, vamos lá encostar-nos à China. Que belo negócio. Só de teimosos mesmo para não dizer mais. Os chineses também são magrinhos, em geral, que os "gordinhos" lá da zona devem ser também poucos.

Com países que não respeitam Os Direitos Humanos Timor-Leste devia era ter vergonha de negociar! Inclua-se aí os EUA por motivos evidentes!

Anónimo disse...

Esse anonimo das 12:12:00 e' uma pessoa tapada. Ignorante.Nao ve um palmo a sua frente.

Anónimo disse...

Para os amnesicos e ignorantes do processo de decisao em Timor...

Eh bom lembrarem-se que o primeiro pais que o PR Xanana visitou, logo apos a sua investidura, foi a Republica Popular da China. O apoio chines ate agora se resume a construcao de duas ou tres obras de grande visibiliadee em TL: edifico do ministerio dos negocios estrangeiros, palacio do Presidente e 100 casas para veteranos. Participou na pesquiza onshore e offshore de gas e petroleo em parceria com outa empresa norueguesa. Empresas Chinesas do ramo nem participaram no tender dos sieis blocos recentemente ganhos pela ENI, empresa italiana com ligacoes a Galp de Portugal. A China nao eh o mair doador de TL, nem figura nos cinco primeiros da lista.
Faco lembrar tambem que o envio de estudantes para Cuba e de medicos cubanos para TL, foi o resultado de um primeirissimo encontro entre Fidel Castro e Xanana Gusmao em Kuala Lumpur a margem da Conferencia dos Chefes de Estado e de Governo do Movimento dos Nao-Alinhdos. O Ramos Horta esteve presente nesse encontro. Portanto em TL as decisoes estrategicas para o desnvolvimento nao tem sido tomadas a revelia de nenhum orgao de soberania. Se alguem esta insatisfeito que envie 300 medicos e dee bolsas a mil estudantes Timorenses nas mesmas condicoes que estando tendo os medicos cubanos em TL e os estudantes Timorenses em Cuba. Temos igualmente 12 medicos chineses a trabalhar em TL. Algum outro pais esta disposto a dar-nos apoio, sera bem vindo...

Anónimo disse...

Ha tanta insistencia em projectar Mari Alkatiri como um brilhante negociador, especificamente em relacao ao petroleo, mas falhou completamente naquela que deveria ter sido a maior negociacao da sua carreira politica. Aquela que no fim iria traduzir-se na sua queda como PM. Os 600 peticionarios!!

Dizem tambem que "Alkatiri é um homem fora de tempo em Timor." Francamente nao consigo perceber o que e de tao especial sobre esta figura que justifique tal declaracao. Aparentemente o seu ponto forte e o de ter sido um "duro" negociador de petroleo. Quanto ao resto tinhamos um crescente nivel de desemprego e pobreza no pais, um executivo enorme muito ineficaz, uma administracao altamente centralizada e emperrada pela burocracia (os professores do distritos tinham que ir a Dili obter autorizacao e fundos para comprar giz), estamos entre os paises no mundo onde se leva mais tempo a criar um negocio apesar de o Alkatiri sempre poferir a importancia do sector privado nos seus discursos; uma crescente corrupcao no sector publico, enfim tanta coisa que nao andava mesmo nada bem.

O que o Alkatiri era mesmo era um "Homem fora do contexto de Timor". Estava a tentar governar um pais sem consideracao qualquer pelo seu contexto cultural, tradicional e historico.
Pelo contrario o Ramos Horta aproveitou a ocasiao da sua tomada de posse como PM para definir claramente a sua clara diferenca com a anterior governacao de Alkatiri. Ramos Horta decidiu que a sua governacao ia ser uma governacao apropriada para a Republica Democratica de Timor-Leste e nao para qualquer outro pais.
Com o seu discurso Ramos Horta aproximou-se de timor e dos timorenses e tenho a certeza que os timorenses deram um suspiro de alivio.

Anónimo disse...

para me qualquer um que vai dirigir mas principalmente interece os povos que ainda sfremento sob do ONU...precisa interece do povo...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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