sábado, julho 08, 2006

Xanana e chefes militares entram em rota de colisão

Armando Rafael, Diário de Notícias, 08/07/06

Com as atenções centradas na escolha do primeiro-ministro, Timor-Leste pode estar à beira de uma nova crise. Desta vez, com contornos imprevisíveis, caso Xanana Gusmão insista em querer substituir Taur Matan Ruak no comando das forças armadas (F-FDTL).

Para já, os sinais desta tensão ainda são muito ténues. Mas a estratégia não engana e parece decalcada daquela que levou à saída de Mari Alkatiri. Com uma pequena diferença. Como, neste caso, o Presidente não tem poderes para exonerar as chefias militares, necessitando que o Governo proponha a sua substituição, vai tentando minar-lhe a autoridade, esperando que Taur Matan Ruak peça a demissão.

O que dificilmente acontecerá. Sobretudo num quadro de crise institucional como aquele que se vive neste momento, desconhecendo quando é que o Presidente da República e a Fretilin poderão chegar a acordo sobre a substituição do primeiro-ministro. Se é que alguma vez o farão, tendo em conta as divergências que continuam a marcar o relacionamento entre as duas partes, apesar das declarações em contrário que têm sido proferidas.

Nomeadamente as que apontam para a possibilidade de poder ser hoje anunciado um novo primeiro-ministro, hipótese que nem mesmo em privado alguém se atreve a confirmar. Dando, de alguma forma, a entender, que as posições de Xanana e da Fretilin - que elegeu 55 dos 88 deputados do Parlamento - ainda se encontram muito extremadas.

Em especial no que respeita à continuação dos principais ministros indicados pela Fretilin. Exigência que o Presidente tende a recusar, contrapondo a tese da dissolução do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas até Dezembro.

O que, segundo algumas fontes ontem consultadas pelo DN, explicaria o silêncio a que Ramos-Horta se remeteu nos últimos dias. E que é tanto mais significativo quanto se sabe que o nome do ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa até estaria em vias de ser viabilizado pela Fretilin, em nome de uma certa estabilidade até às legislativas e presidenciais previstas para Maio de 2007. Mesmo que isso significasse deixar cair a sua primeira opção - Estanislau da Silva, titular da pasta da Agricultura.

Sem que se tenha percebido, até agora, se o Presidente da República continua, ou não, a insistir na necessidade de a Fretilin ter de repetir o seu congresso, sob pena de considerar que a direcção do partido é ilegítima pelo simples facto de que foi eleita por braço no ar.

Um argumento que serviu de arma de arremesso contra Alkatiri no período que antecedeu a sua demissão do cargo de primeiro-ministro, correspondendo a uma das exigências de Xanana Gusmão.

É neste contexto que a questão de Taur Matan Ruak, que é conhecido pela sua frontalidade, adquire relevância. Quanto mais não seja pela disciplina que as F-FDTL evidenciaram ao longo desta crise, recusando todas as tentativas de manipulação de que foram objecto. E que, a fazer fé no New Zeland Herald e no Newsmatilda, chegaram ao ponto de as tentarem aliciar para um golpe.

Só que ninguém sabe até quando é que Taur Matan Ruak, que aparenta ter grande controlo sobre a hierarquia militar, está disposto a tolerar os encontros que Xanana tem vindo a manter com os três majores - Alfredo Reinado, Alves Tara e Marcos Tilman - que se envolveram na contestação ao Governo de Alkatri.

Sendo que o último encontro desta natureza ocorreu na quarta-feira, dia em que foi anunciado o próximo acantonamento dos militares revoltosos com vista à sua reintegração nas F-FDTL. Solução que Taur Matan Ruak dificilmente aceitará, insistindo no respeito pela legalidade e pela hierarquia. Como sucedeu no caso dos 591 peticionários que abandonaram os quartéis.

Talvez assim se percebam melhor as razões que levaram Taur Matan Ruak a não acompanhar a visita que Xanana Gusmão efectuou, na segunda-feira, a Hera e Metinaro, onde as F-FDTL estão aquarteladas, delegando a tarefa no seu número dois, o coronel Lere Annan Timor.
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11 comentários:

Anónimo disse...

O Taur um dos homens mais sérios e honestos de Timor?!
Xanana é um verme asqueroso!

Anónimo disse...

E reparem como desde o princípio do ano já o PR dava a táctica aos desertores. Isto está no site da UNOTIL de que deixo o link:

Daily Media Review
Thursday, 09 February 2006

National Media Reports
402 F-FDTL launch protest

On Wednesday, 402 F-FDTL members including those from the Naval, First and Second Battalions and Headquarters who consider themselves as a distinct ethnic group from the West of Timor-Leste, protested at the Presidential Palace in Caicoli. The group directed their protest at the President as the Supreme Commander of the F-FDTL in regard to declarations by some Commanders that it was those from the East of Timor-Leste who were primarily involved in the war. They also launched an angry protest against what they claim to be discrimination within the F-FDTL related to promotions granted exclusively to those from the East.

President Xanana responded by saying that as the Supreme Commander, he has an interest in resolving the conflict but that he is unhappy that the soldiers left their barracks to protest. When meeting with the protesters, the President requested that return to their barracks and allow the internal F-FDTL Commission to investigate the allegations. The soldiers refused to return however, saying that some of the Commanders had threatened that if they participated in the protest, they would be considered enemies. They suggested that they all remain for the time being at the HQ in Tasi Tolu, so that the investigators could speak to them there as a group. They anticipated that they would experience problems with their colleagues if they were to return to their respective offices.

The situation became heated when President Xanana, unable to convince the soldiers to return, left them to return to his office. The President stated that he would have preferred if the soldiers had just presented a petition, and not left their barracks, as this action will not help to resolve the problem. (TP, STL)

Regional Media Reports

East Timor: President gives army protesters ultimatum to return to barracks

Dili, Feb. 8 (Lusa) - President Xanana Gusmão gave hundreds of protesting AWOL East Timorese soldiers an ultimatum Wednesday to return to their barracks or face expulsion from the army.
After meeting with the group of about 400 soldiers for a second consecutive time at the Presidential Palace Wednesday night, Gusmão promised an inquiry into their demands and no reprisal for their action if they returned to their barracks by Thursday morning.
The group of unarmed troops gathered at the Cinzas Palace in Dili early Wednesday to demand the replacement of the Commander of 1 Battalion based in Baucau, Colonel Falur.
"You erred in abandoning your barracks. "If you return (to barracks), you will again be officers, sergeants and soldiers", Gusmão told the assembled protesters, warning that if they disobeyed they would "cease being military".
He promised the soldiers they would face no reprisals and that an inquiry would be opened into their grievances.
Police and army trucks lined up near the Presidential Palace to take protesters back to barracks over night if they so chose.
In comments to Lusa and Portugal's RTP television after his meeting with the military protesters, Gusmão said he did "not know" whether they would follow his advice.
"It depends on them, I showed them the way", the President said. (LUSA)
http://www.unotil.org/UNMISETWebSite.nsf/cce478c23e97627349256f0a003ee127/588584301a1352ba49257110003a98d6?OpenDocument

Anónimo disse...

Parece-me uma teoria pouco provavel.

Anónimo disse...

Adoro Taur desde os tempos da guerrilha, GRANDE GUERRELHEIRO.Por favor não toquem nele, é admiravel.Comentário de muito longe.PORTUGAL

Anónimo disse...

Os verdadeiros comandantes vao comecar a falar e o Xanana vai ter que se esconder de novo num buraco, mas desta vez nao sera de medo mas de vergonha!

Anónimo disse...

Tradução da Revista de Imprensa da UNOTIL de 9 de Fevereiro de 2006:

Daily Media Review

Quinta-feira, 09 Fevereiro 2006

Reportagens dos Media Nationais

402 F-FDTL lançaram protesto

Na Quarta-feira, 402 membros das F-FDTL incluindo os da Naval, Primeiro e Segundo Batalhões e do Quartel-General, que se consideram a si próprios como um grupo étnico distinto do Oeste de Timor-Leste, protestarem no Palácio Presidencial em Caicoli. O grupo dirigiu o seu protesto ao Presidente por ser o Supremo Comandante das F-FDTL em relação a declarações por alguns Comandantes que foram os do leste de Timor-Leste que estiverem em primeiro lugar envolvidos na guerra. Também lançaram um protesto irado contra o que reclamam ser discriminação no seio das F-FDTL relacionadas com promoções feitas exclusivamente aos do leste.

O Presidente Xanana respondeu dizendo que como Comandante Supremo, tem interesse em resolver o conflito mas que está infeliz que os soldados tenham saído dos seus quartéis para protestar. Quando se reuniu com os manifestantes, o Presidente pediu-lhes que regressassem aos seus quartéis e que permitissem que a Comissão Interna das F-FDTL investigasse as alegações. Contudo, os soldados recusaram regressar, dizendo que alguns dos Comandantes os tinham ameaçado que se participassem no protesto, seriam considerados inimigos. Sugeriram que todos permanecessem no Quartel-General em Tasi Tolu, para que os investigadores os pudessem ouvir como um grupo. Anteciparam que podiam experimentar problemas com os seus colegas se regressassem aos respectivos quartéis.

A situação tornou-se quente quando o Presidente Xanana, incapaz de convencer os soldados a regressarem, os deixou para regressar ao seu gabinete. O Presidente declarou que teria preferido que os soldados tivessem somente apresentado uma petição, e que não tivessem saído dos seus quarteis, porque esta acção não vai ajudar a resolver o problema. (TP, STL)

Reportagens dos Media Regionais

Timor-Leste: o Presidente dá aos manifestantes das forças armadas um ultimato para regressarem aos seus quartéis

Dili, Feb. 8 (Lusa) – O Presidente Xanana Gusmão deu a centenas de soldados desertores de Timor-Leste que protestavam um ultimato na Quarta-feira para regressarem para os seus quartéis ou enfrentariam a expulsão das forças armadas.

Depois de se reunir com um grupo de cerca de 400 soldados pela segunda vez consecutiva no Palácio Presidencial na Quarta-feira à noite, Gusmão prometeu um inquérito aos seus pedidos e nenhuma represália pela sua acção se regressarem aos seus quartéis na Quinta-feira de manhã.

O grupo de tropas desarmadas juntou-se no Palácio das Cinzas em Dili cedo na Quarta-feira para exigir a substituição do Comandante do Batalhão 1, com base em Baucau, o Coronel Falur.
"Erraram quando abandonaram os vossos quartéis. "Se regressarem (aos quartéis), serão outra vez oficiais, sargentos e soldados ", disse Gusmão aos manifestantes reunidos, avisando-os de que se desobedecerem "deixarão de serem militares ".

Prometeu aos soldados que não enfrentariam represálias e que seria aberto um inquérito às suas ofensas.

Camiões da polícia e militares alinhavam-se perto do Palácio Presidencialpara transportar os soldados de volta para os quartéis durante a noite se assim escolhessem fazer.

Comentando para a Lusa e para a RTP depois desta reunião com os manifestantes militares, Gusmão disse que “não sabia” se eles seguiriam o seu conselho.
"Depende deles, eu mostrei-lhes o caminho ", disse o Presidente. (LUSA)

http://www.unotil.org/UNMISETWebSite.nsf/cce478c23e97627349256f0a003ee127/588584301a1352ba49257110003a98d6?OpenDocument

Anónimo disse...

Xanana should visit this website too see his popularity in poltugal, then he will know that, East-timorese in diaspora and the majority of portuguese people are against him and his decision making process.

http://www.radio-monsanto.com/index2.php

Anónimo disse...

Era bonito, o Presidente de um país regular-se pelo que os nacionais de outro país acham dele. Os timorenses na diáspora nem sequer votam. Não foi isso mesmo que todos nós criticámos nas opiniões dos colunistas australianos sobre o Alkatiri?
Por este andar temos que recomendar a Cavaco Silva que consulte os blogues espanhois para saber se ratifica ou não Leis do parlamento.

Por favor, caiam na real e deixem-se de fantasias demagógicas que só nos fazem ficar mal perante o mundo.
Usem argumentos baseados em factos, em documentos, em estudo e conhecimento das coisas.
Estamos a transformar-nos num país de "achistas". Toda a gente acha e opina, mesmo sem ter qualquer noção do que fala.

Anónimo disse...

Rai Timor: e eu a lembrar-me que o seu PR demitiu o seu PM por causa duma reportagem duma televisão de outro país... e como comprovante até mandou uma video cassete.

Anónimo disse...

Acha mesmo que foi só assim? Só mesmo pelo conteúdo daquela cassete
Santa ingenuidade. Ou visão distorcida propositadamente.

Claro que as pessoas vêm pelo prisma que mais jeito lhes dá.

É fantástico como para certas pessoas tudo é tão claro, simples e linear.

Como se em Timor, alguma coisa, alguma vez o possa ser.

É o que dá ver Timor com olhos ocidentais. Só se vê a superfície.

Ainda por cima uma reportagem tão isenta que mais parecia o Michael Moore a descrever a conspiração do 11 de Setembro.

Anónimo disse...

Mas você afinal tão sapiente, nada explica, e quando o confrontamos remete-se para a explicação que as coisas em Timor-Leste são muito complicadas e nada adianta. Agora estar a pôr em causa o Four Corners também tem a sua piada, depois de pôr em causa o Micael Pereira, só falta mesmo é concluir que o PR foi vídima da má-língua dos meia estrangeiros... É que a primeira carta do PR a exigir do PM a demissão (com data-limite e tudo) foi só com a vídeo-cassete do Programa Four Corners da ABC, isto não pode negar, a carta anda por aí no arquivo.

E não venha com as singularidades das mentes orientais, afinal o PR e Ramos Horta têm também meia costela portuguesa. Arranje-lhes outra desculpa, essa é fracota.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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