quinta-feira, outubro 05, 2006

Relatório da ONU sobre crise político-militar poderá ser duro,Xanana

Díli, 05 Out (Lusa) - O relatório que em breve será entregue por uma Comissão de Inquérito Independente da ONU, sobre as responsabilidades e medidas propostas de responsabilização, "poderá ser duro para muitas pessoas", disse hoje em Díli o Presidente timorense, Xanana Gusmão.

"Nós ainda não vimos o relatório (...) Sabemos também que o relatório e as recomendações que a Comissão irá emitir poderão ser duros para muitas pessoas, duros para os líderes, duros para os cidadãos, para os civis, para as forças militares e policiais", disse Xanana, que falava à imprensa no Palácio das Cinzas, sede da Presidência da República.

Ladeado pelo presidente do Parlamento Nacional, Francisco Guterres "Lu-Olo", e pelo primeiro-ministro José Ramos Horta - com quem esteve reunido antes -, Xanana Gusmão fundamentou a declaração, intitulada "Apelo à Nação", com a importância de todos os timorenses receberem o relatório "com a devida dignidade, com hombridade e coragem", que visa ajudar os governantes e o povo em geral "a compreender exactamente a razão por que esta crise aconteceu" em Timor- Leste.

A entrega do relatório esteve inicialmente prevista para o próximo sábado, mas atrasos, justificados com a necessidade de traduzir o documento para tétum, português e bahasa indonésio, levaram a que não fosse ainda indicada uma data.

O relatório está a ser elaborado por uma Comissão presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, e que integra ainda a sul- africana Zelda Holtzman e o britânico Ralph Zacklin, mandatados pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para apontar os responsáveis pela violência registada em Timor-Leste em Abril e Maio.

Em resultado dessa crise, cerca de 180 mil timorenses - 18 por cento da população -, vive há meses em campos de acolhimento, e pelo menos 30 pessoas morreram, registando-se ainda destruição de bens públicos e privados.

Depois de explicar que a criação da Comissão resultou num pedido feito a 08 de Junho por José Ramos Horta, então titular da pasta dos Negócios Estrangeiros, Xanana Gusmão salientou que aquela solicitação, "em nome de Timor-Leste", foi feita sob um compromisso.

"De que todos nós havemos de garantir que o resultado deste inquérito reforce o sector de segurança e a responsabilidades pelas violações criminais e pelas violações contra os Direitos Humanos cometidos durante a crise", explicou.

As recomendações que vierem a ser produzidas pela Comissão deverão ser depois conduzidas pelo sistema judicial timorense.

"Chegou a hora de todos nós recebermos o resultado do trabalho da Comissão e todas as suas recomendações, para nos ajudar a desenvolver o sector de segurança e de respeito pelos Direitos Humanos, pôr termo à violência política, para que esta crise nunca mais se repita", frisou Xanana.

As recomendações visam "ajudar o Estado, e não ajudar uma pessoa ou um líder ou outro. É para ajudar o Estado a florescer, de acordo com as vias democráticas e de Estado de Direito", acrescentou.

Sublinhando que o apelo é feito conjuntamente pelos três órgãos de soberania, o Presidente Xanana Gusmão acentuou a necessidade do documento ser recebido "com serenidade e com a devida responsabilidade", característica que, recordou, foi demonstrada pelos timorenses ao longo dos 24 anos de luta contra a ocupação indonésia.

No final do encontro, em que não foram permitidas perguntas aos jornalistas, Xanana Gusmão e José Ramos Horta dirigiram-se ao quartel da GNR no bairro de Caicoli, onde almoçaram com os 127 militares portugueses ali estacionados.

EL-Lusa/Fim

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2 comentários:

Anónimo disse...

"Ladeado pelo Presidente do Parlamento Nacional, Francisco Guterres "Lu Olo", e pelo primeiro-ministro José Ramos Horta-com quem esteve reunido antes..."

"Sublinhando que o apelo é feito conjuntamente pelos três órgãos de soberania..."

"No final do encontro,..., Xanana Gusmão e José Ramos Horta dirigiram-se ao quartel da GNR de Caicoli, onde almoçaram com os 127 militares portugueses ali estacionados.

Estarão a antecipar estratégia da sua absolvição ou a participar num exércio das práticas democráticas que futuramente serão obrigados a observar?

Anónimo disse...

Por dever de ressalva, porque a lógica jornalística constitui, tão só, uma representação da realidade, e não a própria realidade, não sei se as coisas se passaram com EL-Lusa relatou.
Mas os sinais positivos que a notícia encerra, faz apetecer afastar-me das dúvidas reveladas no último parágrafo do comentário anterior: "Estarão a antecipar estratégia da sua absolvição...".
Amo demais Timor e os timorenses para me dispensar de deixar aqui algum sinal de esperança.
Muitas vezes usei, em Timor ou fora de Timor, o último verso do belíssimo soneto, Pátria, de Xanana: "Pátria é... do futuro a esperança".
Viva Timor!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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