terça-feira, novembro 21, 2006

Marcha silenciosa 3ª feira em memória de brasileiro assassinado

Díli, 20 Nov (Lusa) - A comunidade brasileira residente em Timor-Leste, cerca de 160 pessoas, convocou para terça-feira uma marcha silenciosa em Díli, em memória de Edgar Gonçalves Brito, pastor evangélico assassinado domingo à noite, disseram à Lusa os organizadores.

Edgar Gonçalves Pedro é a primeira vítima estrangeira da violência provocada pela crise político-militar timorense, iniciada em Abril passado.

A marcha, já autorizada pelas autoridades timorenses, partirá do bairro de Lecidere e termina na igreja de Motael, estando a sua realização a ser divul gada por SMS para outros cidadãos estrangeiros.

Edgar Gonçalves Brito, 32 anos, foi assassinado por desconhecidos no domingo à noite, quando se dirigia para casa, acompanhado da irmã, tendo sido surpreendido por confrontos entre grupos de jovens, na zona entre os bairros de Akadiro Hun e Bidau.

A morte deveu-se a um golpe profundo perpetrado por lâmina, entre o pescoço e o ombro.

A Lusa contactou o embaixador do Brasil em Díli, António de Souza e Silva, que disse ter entregue em mão o pedido de autorização da iniciativa ao primeiro-ministro, José Ramos-Horta.

Relativamente à trasladação do corpo, António de Souza e Silva revelou que ainda não há data prevista.

"O processo exige determinados requerimentos, quer por parte da Austrália quer por parte da Indonésia", salientou.

As ligações aéreas de Díli para o exterior são feitas com Darwin, norte da Austrália, e Denpasar, na ilha indonésia de Bali.

"Os procedimentos de embalsamento em vigor em Timor-Leste são diferentes dos usados nestes dois países. Em Timor-Leste, o embalsamento é feito unicamente com formol, o que confere um prazo de apenas cinco horas. No caso da trasladação ser feita via Darwin, por exemplo, o corpo terá de ser de novo sujeito a novo tratamento de conservação", explicou.

De acordo com testemunhos de outros cidadãos brasileiros residentes em Díli, Edgar Gonçalves Brito tinha já em Maio sido alvo de uma tentativa de assalto, quando se encontrava na sua residência.

O assalto, que resultou num grande susto e no roubo da sua motorizada, ocorreu a 26 de Maio, em plena crise político-militar.

Na ocasião, numa descrição que fez na página da Internet Crocodilo Voador, Edgar Gonçalves Brito revelou o terror que então sentiu.

"No dia 26, quando tentaram entrar em minha casa, eu pensei que não sai ria daqui vivo. Eu sentei em uma cadeira e fiquei olhando para a porta, esperand o o momento que quem estava tentando arrombar a porta conseguiria entrar. Não ti nha nada a ser feito, eu não poderia ligar para ninguém. Quem seria louco de ent rar no meio de um conflito de gangues para salvar um amigo?", escreveu.

Pastor evangélico há cerca de dois anos em Díli, Edgar Gonçalves Brito aproveitou na ocasião um telefonema que recebeu para pedir ajuda e contar o que lhe estava a acontecer.

"Quando meu telefone tocou, eu nem esperei a pessoa do outro lado falar o que queria, contei tudo que estava acontecendo e ouvi a Anabel (outra missionária evangélica) falando para eu ficar calmo que ela iria ligar para o embaixador", descreveu.

No meio da violência a que estava a ser sujeito, um acaso permitiu-lhe pedir ajuda.

O telemóvel que tinha tocado pertencia à irmã, Elisama, que se tinha esquecido do aparelho em casa, e que no domingo passado se encontrava a seu lado, quando foi assassinado.

"O mais estranho de tudo é que a Elisama tinha esquecido o telefone em casa e a Anabel fez uma ligação errada para o telefone da Elisama, que por ela t er esquecido, estava comigo. Minutos depois, a Anabel me retornou falando que a embaixada não poderia me ajudar, pois não tinha mais policiamento na cidade, mas que se eu tivesse coragem de sair de dentro de casa, ela viria me buscar", acre scentou na altura.

Além do cidadão brasileiro, o timorense José Barros, que integrava a Comissão de Reconciliação Comunitária, foi encontrado morto hoje de manhã, no merc ado de Comoro, zona ocidental de Díli.

Mais de 50 pessoas foram mortas em Timor-Leste desde o início da crise político-militar, em Abril.

EL-Lusa/Fim
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Traduções

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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