terça-feira, novembro 14, 2006

Xanana Gusmão exige de novo respostas à FRETILIN

Diário Digital / Lusa 13-11-2006 14:36:00

O Presidente timorense, Xanana Gusmão, voltou hoje a exigir respostas à FRETILIN, na segunda parte de um texto que responde ao documento aprovado, a 30 de Outubro, pelo Comité Central do partido maioritário de Timor-Leste.

Ao longo das 17 páginas do texto em língua portuguesa, enviado à agência Lusa e parcialmente publicado, em tétum, na edição de hoje do diário Suara Timor LoroSae, Xanana Gusmão privilegia o tom irónico e refere-se sempre aos membros do Comité Central da FRETILIN (CCF) como «os senhores doutores».

À semelhança da primeira parte da sua resposta ao documento da FRETILIN, divulgada a 6 de Novembro, Xanana Gusmão exige respostas, designadamente a identidade dos que, segundo o partido maioritário, elaboraram «um plano bem traçado de contra-inteligência», tendo em vista a subversão da ordem constitucional.

«Indiquem-nos, por favor, essas maldosas pessoas!!! O Povo Unido até pode ajudar o CCF a apanhá-las e metê-las em Becora [principal prisão em Timor-Leste], para aprenderem a perceber que a nossa democracia não permite manifestações ... contra o Governo! Eu creio que o povo ficará contente e descansado por, finalmente, castigarmos esses profundamente anti-democráticos e golpistas!!! Mas revelem-nos os nomes por favor», lê-se no texto.

Referindo-se às alegações da FRETILIN (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) de que as forças armadas timorenses foram aliciadas a participar num golpe contra o governo liderado pelo secretário-geral do partido, Mari Alkatiri, Xanana classifica a acusação como uma «história».

«Deve haver mais histórias, que o Povo desconhece! Peço, imploro e rogo ao CCF para dar instrução partidária à bancada da maioria (no parlamento) para se formar uma Comissão de Notáveis para investigar, o mais cedo possível, esta questão, a fim de pormos fim de uma vez a especulações que surgiram... da análise do CCF», desafia.

A resposta de Xanana Gusmão ao documento do CCF vai já em duas partes, mas o Presidente não quer deixar nada por responder e daí afiançar que está a preparar uma terceira parte, em que abordará os pontos relacionados com a «firmeza da posição do Comando das Falintil-forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), na defesa da Constituição e das instituições democraticamente eleitas».

Pelo meio, e em duas ocasiões, Xanana refere-se ao seu futuro político.

Na primeira, em que responde à alegação do CCF sobre o envolvimento de «actores externos» na queda do executivo de Mari Alkatiri, Xanana Gusmão frisa que só dispõe de sete meses para concluir o mandato presidencial e, porque não tem nada a perder, desafia o Comité Central da FRETILIN a identificar esses actores externos.

«Senhores Doutores do CCF, só tenho sete meses para terminar o meu mandato e não tenho nada a perder! Dêem-me os nomes e denunciarei essa conspiração internacional, seja junto do Presidente [norte-americano, George W.]) Bush seja junto do primeiro-ministro [australiano] John Howard! Mas venham os factos, com os respectivos nomes», desafia.

A segunda referência, em que aborda ao de leve uma eventual recusa numa recandidatura presidencial, Xanana Gusmão salienta que a partir de 20 de Maio de 2007, data prevista para a posse do novo chefe de Estado, será «apenas um cidadão ordinário».

«Como depois de terminado o meu mandato, a partir de 20 de Maio de 2007, serei apenas um cidadão ordinário, cujo voto não afecta em nada o exercício democrático dos partidos políticos, não tenho nada a perder, se vamos todos dissecar os pequenos segmentos da crise, onde as relações institucionais foram profundamente abaladas», sublinha.

No seu texto, Xanana Gusmão cita ainda os nomes da actual ministra da Administração Estatal, Ana Pessoa, e do director-geral da Autoridade Bancária de Pagamentos (banco central), Abraão de Vasconcelos, como tendo emitido SMS sobre o papel do Presidente na crise.

Relativamente a Ana Pessoa, acusa-a de ter enviado um SMS com a seguinte redacção: «Viva a imundície da democracia da república de bananas/Xanana».

«Pedi (a Mari Alkatiri) para lhe transmitir que se ela pensou que me magoava com o seu SMS (...), o efeito fora precisamente o contrário, porque só pude exclamar assim: Pobre Ana», escreve.

Quanto a Abraão de Vasconcelos, Xanana Gusmão acusa-o de ter igualmente enviados SMS «a toda a gente», referindo que o Presidente estava implicado num «golpe constitucional».

A crise político-militar desencadeada em Abril passado, que a FRETILIN considera tratar-se do acto mais recente de uma série de acções iniciadas em 2002, aquando da formação do I Governo Constitucional, tendo em vista a subversão da ordem constitucional, é nesta segunda parte do texto uma vez mais referida, e com vários pormenores.

«O Presidente da República, como Órgão de Soberania, não possui serviços de inteligência! É o Governo e o Governo deve admitir que tinha um serviço de informação nacional, incapaz e ineficiente. Pelo menos era o que transparecia antes, durante e depois do período difícil da crise, porque os rumores, propositadamente fabricados ou não, eram a substância das informações», afirma.

A distribuição de armas a civis é igualmente abordada, com Xanana a recordar uma conversa que manteve com Mari Alkatiri a 24 de Maio, no Palácio das Cinzas, sede da Presidência da República.

Enquanto o então ministro dos Negócios Estrangeiros, José Ramos-Horta (que substituiu Alkatiri na chefia do governo em Julho) comunicava ao Corpo Diplomático a decisão de solicitar à Austrália, Malásia, Nova Zelândia e Portugal o envio de forças militares e de polícia, «sussurrei ao primeiro-ministro: Ouvi dizer que o [antigo comandante da resistência Cornélio Gama] L-7 vem aí com muitos civis para se apresentarem às F-FDTL. É isto verdade?».

«E o primeiro-ministro confirmou dizendo É o [brigadeiro-general Taur Matan) Ruak que está a chamar os reservistas. E eu disse: Por favor, diga ao Ruak para não fazer isso, evitemos armar civis. E eu sei que o Senhor Dr. Mari Alkatiri se lembra desta conversa, em sussurros, que tivemos à frente de todo o Corpo Diplomático e a imprensa», escreve Xanana Gusmão.

Após a divulgação do primeiro texto do presidente timorense, a 3 de Novembro, Mari Alkatiri remeteu para mais tarde uma resposta da FRETILIN, mas numa entrevista posterior à Lusa, em Lisboa, considerou «chocante» que Xanana Gusmão tenha criticado aqueles que partiram de Timor-Leste, como foi o seu caso, poucos dias antes da invasão indonésia (7 de Dezembro de 1975).

.

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.