sexta-feira, março 30, 2007

Avaliação das próximas eleições em Timor-Leste

(Tradução da Margarida)

RSIS. Copyright (c) 2007 S Rajaratnam School of International Studies, Nanyang Technological University

Depois de meses de especulação e adiamentos, o governo Timorense e a ONU acordaram finalmente na realização das primeiras eleições do país desde a independência há 5 anos. De RSIS.

Por: Loro Horta para RSIS (29/03/07)

Muitos esperam que a votação possa pôr finalmente um fim na crise política em curso que atingiu a nação nos seus alicerces. Porque as próxmas eleições podem ser decisivas para a estabilidade futura de Timor-Leste, são por isso relevantes para os interesses gerais de segurança dos países vizinhos.

Provavelmente as eleições vão-se centrar numa disputa entre duas forças políticas maiores, ambas que por sua vez são apoiadas por um vasto conjunto de pequenas associações sociais e cívicas. Num lado estará o corrente Presidente Xanana Gusmão a tentar o cargo de Primeiro-Ministro e o seu aliado, Ramos Horta, o corrente PM, que tenta o cargo de Presidente. O seu opositor mais sério será certamente o antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri e a Fretilin.

Para concorrer a PM, Gusmão formou recentemente o seu próprio partido político, o CNRT. O seu partido provavelmente formará uma coligação com vários partidos menores, tais como o Partido Democrático (PD) e o Partido Social Democrata (PSD). Gusmão pode ainda contra muito provavelmente com o apoio da influente igreja católica e os seus poderosos bispos. O poder da igreja é preponderante.

Os padres e as freiras estão presentes em cada aspecto da vida dos nativos até às mais pequenas questões sociais. Uma outra fonte de imenso poder disponível para a igreja são as várias organizações de caridade e escolas, que lhe dão alavancas significativas para a mobilização social.

Conquanto Gusmão possa enfrentar o maior desafio na sua esperança de se tornar PM, Horta terá também os seus desafiantes. Francisco Guterres (Loholo), presidente da Fretilin, desafiará Ramos Horta para a presidência. Conquanto seja uma figura relativamente obscura, é conhecido pela sua modéstia e dedicação ao partido. Tal como Alkatiri tem a sua arma principal na máquina bem disciplinada da Fretilin.

O outro lado

À primeira vista pode parecer que as eleições são favas contadas – que os líderes mais influentes como Gusmão e Horta e que as organizações sociais mais poderosas como a igreja católica juntaram forças para tratar de uma vez por todas do “diabo comunista” Alkatiri.

Contudo, Alkatiri não parece impressionado com a poderosa coligação engendrada contra ele. No princípio de Fevereiro, no seu típico estilo desafiante, Alkatiri anunciou que se candidatava a primeiro-ministro e que de uma vez por todas ia mostrar quem é que o povo de Timor apoiava. Prometeu derrotar os seus opositores sem margem de dúvidas e pôr fim à "hipocrisia."

Conquanto pareça improvável que Alkatiri consiga derrotar a poderosa coligação engendrada contra ele, devemos esperar que ele consiga muito melhor do que alguém tão isolado quanto ele. Uma combinação de factores, alguns derivados das qualidades pessoais do homem, e outros resultantes de oportunidades e circunstâncias, podem fazer com que ele sobreviva outra vez.

Como pessoa, Alkatiri está longe de ter um carácter de que se goste, (anda) sempre com uma expressão séria e tem um sentido de humor bastante ofensivo. Contudo, continua a ter o controlo da Fretilin, o único verdadeiro partido político do país. Independentemente da controvérsia que rodeou a sua re-eleição no ano passado com 98 por cento dos votos no último congresso do partido, Alkatiri ainda se mantém secretário-geral da Fretilin. Devido ao seu papel na luta pela independência, o partido ainda retém um considerável número de seguidores. Em 2005 o partido venceu em 31 das 32 áreas nas eleições regionais.

Graças à sua luta de 24 anos como força de guerrilha contra a ocupação Indonésia, a Fretilin desenvolveu uma estrutura partidária sem rival em qualquer outra força no país. O aparelho partidário vai desde o nível da aldeia tendo quadros políticos mesmo nas aldeias mais pequenas. Somente a igreja católica se aproxima de uma tal organização. Os anos de luta da Fretilin e a dureza (da luta) deram aos seus membros um forte e persistente sentido de identidade e de lealdade. Como outros antigos movimentos de guerrilha de esquerda, a Fretilin ié de muito longe uma força mais disciplinada e organizada do que qualquer outro partido. A sua estrutura pode ser uma vantagem poderosa nas mãos de um líder experiente, mesmo que não muito popular.

Alkatiri é conhecido pelas suas notáveis qualidades organizacionais e (pela) discipline. Uma das suas características são as longas horas de trabalho. Enquanto os incompetentes líderes da oposição de Timor-Leste passavam o tempo nos cafés de Dili, Alkatiri passou para a ofensiva. No fim de Fevereiro, bem antes das eleições, Alkatiri tinha visitado quase todos os 13 distritos do país galvanizando as massas e mobilizando os membros do partido.

Alkatiri tem nas suas mãos uma arma poderosa forjada durante 24 anos de guerra com o custo de 200,000 vidas. Gusmão e Horta, por outro lado, serão apoiados por um conjunto de pequenos e incompetentes partidos que provavelmente cavalgarão no carisma dos dois líderes. Contudo, ambos os homens não têm outra escolha senão aproveitarem o apoio (deles) e rezarem para que esses partidos se limitem às formalidades.

Um novo factor que pode melhorar as possibilidades de Alkatiri é a questão regional da divisão leste-oeste que emergiu com uma vingança depois da crise militar de Abril de 2006. A Fretilin tradicionalmente tem tido um forte apoio nom lado leste da ilha onde a maioria da luta pela independência se desenrolou. Depois da crise militar muitos no leste sentiram que o Presidente Gusmão foi parcial com os soldados amotinados na sua maioria do oeste. Este percepção pode ter um efeito negativo sobre Gusmão nas eleições, ao levar certas partes de gente do leste a votarem na Fretilin para retaliarem contra a percebida parcialidade de Gusmão.

É também provável que Alkatiri obtenha algum apoio dos Timorenses mais radicais e nacionalistas ao afirmar-se como um patriota em luta pelos interesses do povo contra a Austrália e as suas marionetas locais. Na verdade, em tempos recentes, Alkatiri adoptou uma retórica crescentemente nacionalista, afirmando que foi derrubado numa conspiração orquestrada por actores estrangeiros e domésticos. Se se considerar os níveis significativos do sentimento anti-Australiano entre muitos Timorenses, não se deve desvalorizar tais tácticas.

O poder e a reputação da Fretilin e da liderança enérgica de Alkatiri são uma combinação tão poderosa que muitos partidos da oposição e grupos pseudo políticos têm andado a fomentar a violência numa tentativa de adiar as eleições. Os ataques de Reinaldo aos postos de polícia e os distúrbios subsequentes desencadeados em Dili pela operação Australiana para o capturar podem fazer parte de tais tentativas.

Conclusão

Conquanto seja muito improvável que Alkatiri esteja de volta como primeiro-ministro do pequeno inquieto Timor–Leste, é também bastante improvável que ele se vá sem mais reboliço. Muitos estão furiosos com o que entendem ser o seu gesto irresponsável e egoísta de concorrer às eleições. A sua candidatura pode transformar as eleições no caos e na violência tudo por causa do seu ego, gritam alguns. Mas, no fim de contas, numa verdadeira democracia, Alkatiri tem todo o direito de concorrer. É melhor que Gusmão e Horta se preparem para a luta, porque têm que confrontar um opositor sério.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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