sábado, abril 07, 2007

A herança da Fretilin agiganta-se nas eleições em Timor

(Tradução da Margarida)

Por: Karen Michelmore, Correspondente do Sudeste da Ásia

Dili, Abril 5 (AAP) – O barulho distinto dos motociclos ouve-se à distância, a crescer cada vez mais alto.

Em segundos mais de 30 motociclos, motores a trabalhar e enfeitados com bandeiras do partido e com cartazes, entram no complexo deteriorado, o quartel-general do maior partido político de Timor-Leste, na capital Dili.

Vários camiões de caixa aberta cheios de jovens com camisetas sem mangas cantando "Fretilin, Fretilin", muitos bêbados, em breve seguem a caravana, enquanto a música da campanha eleitoral da mais antiga guerrilha para a independência retumbe no mais alto volume.

Muitos descem rapidamente e começam a saltar e a dançar no lixo ao pé dos camiões, enquanto um apoiante enrolado na distintiva bandeira vermelha da Fretilin grita: "Somos independente por causa da Fretilin, lutamos pela independência".

É o fim de outro dia cheio de sucesso da rota da campanha antes da histórica eleição presidencial de Segunda-feira – a primeira desde que Timor-Leste ganhou a independência da Indonésia em 2002, e também a primeira eleição nacional conduzida pelas autoridades locais.

Apesar da sua profunda pobreza e dos problemas sociais, Timor-Leste abraçou com vigor esta oportunidade de democracia, com dezenas de milhares a irem a comícios políticos em toda a nação nas duas últimas semanas.

Camiões carregados principalmente com jovens agitando bandeiras e gritando em apoio de um dos oito candidatos circularam por cidades em todo o país, e houve um forte registo de eleitores, com 522,933 a poderem votar numa das 705 assembleias de voto na Segunda-feira.

Apesar da campanha ter sido manchada por incidentes isolados de violência e intimidação – dúzias ficaram feridos em ataques a apoiantes rivais nos distritos, e no último grande dia da campanha em Dili ontem – muitos receavam que pudesse ter sido bem pior.

A violência de gangs continua a ensombrar Dili, onde milhares de pessoas permanecem em campos de deslocados espalhados pela capital, ainda com demasiado medo de regressarem às casas depois da vaga de violência do ano passado na qual foram mortas 37 pessoas e 150,000 deslocadas depois de 600 membros das forças armadas terem sido despedidos pelo governo.

O candidato do partido do poder, Fretilin, Fransciso Guterres "Lu Olo" é considerado um favorito entre os oito candidatos para substituir o combatente da independência Xanana Gusmão como presidente da pequena nação.

O Presidente de 52 anos do Parlamento Nacional de Timor-Leste descreve-se a si próprio como "o filho de uma família pobre, de gente humilde ", um católico devoto e um antigo combatente da guerrilha que prometeu ser um presidente para toda a gente, independentemente das suas filiações.

O próprio partido transpira confiança, dizendo que se a eleição fosse decidida pelas assistências nos comícios em toda a pequena nação teria uma vitória esmagadora.

"A coisas estão a correr bem em todos os distritos para o candidato da Fretilin – a assistência mais baixa foi de quatro a cinco mil e a maior em Suai foi de 17,000," disse o director de campanha e Ministro do Trabalho e da Solidariedade de Timor-Leste, Arsénio Bano.

"Já ganhámos com os números de pessoas que aparecem em todos os lados aonde vamos. Se os compararmos com os dos outros candidatos, o maior número que conseguem é de 1500. Por esta comparação já podemos dizer que ganharemos a eleição."

Mas muitos, incluindo alguns membros do partido, discordam e acreditam que há um ambiente para a mudança no eleitorado.

A Fretilin, dizem eles, está crescentemente a ser vista como arrogante e muitos Timorenses poucas melhorias sentem nas suas vidas diárias depois de cinco anos de governação da Fretilin.

O candidato independente José Ramos Horta, que substituiu Mari Alkatiri da Fretilin como primeiro-ministro de Timor-Leste depois da crise de violência do ano passado, é um outro corredor da frente para a presidência.

O bem-educado laureado do Nobel da Paz emitiu uma mensagem escorregadia de unidade, ao lado de uma trouxa de promessas, prometendo encaminhar pelo menos $US10 mihões ($A12.2 milhões) por ano para a igreja para ajudar a nação empobrecida "curar as nossas feridas ".

Como outros candidatos prometeu montar um sistema de segurança social na pequena nação, oferecendo $US40 ($A50) por mês para os 100,000 cidadãos mais pobres, bem como para os idosos, deficientes e veteranos da luta de Timor-Leste para a independência.

E tem também planos para rever e, se necessário, simplificar a Constituição, instalar um novo sistema de impostos e acabar com os impostos para os que ganham menos de $US1,000 ($A1,220) por mês; e criar uma rede de "zonas de paz " pela ilha numa tentativa para dominar a violência.

Desiludidos pela crise recente que atingiu a nação, uma facção dissidente da Fretilin está a apoiar Ramos Horta para a presidência contra o próprio candidato do partido Lu Olo.

"Estamos a apoiar Ramos Horta – ele tem todas as habilitações diplomáticas e é conhecido na comunidade nacional e internacional e foi um membro fundador da Fretilin," disse José Luis Guterres Ministro dos Estrangeiros de Timor-Leste.

"Este país está em mau estado, é um país dividido ... enfrentando tantos problemas. Precisamos de alguém com as habilitações certas para encontrar o caminho para a saída desta crise.

"Acredito que Lu Olo e (antigo primeiro-ministro da Fretilin) Mari Alkatiri, são os responsáveis da crise (do ano passado).

"As pessoas querem mudança neste país."

Ramos Horta diz que está descansado com a eleição de Segunda-feira e classifica as suas hipóteses como "razoáveis".

"Não estou preocupado se vou ganhar ou perder, porque para mim, seja qual for o resultado sou um vencedor," disse. Se ganhar, ganhei as eleições e se perder ganharei a minha liberdade.

"Aceitarei a mensagem das pessoas que querem que eu me retire e que eu mereço uma reforma antecipada. Não hesitarei em seguir esse conselho e retirar-me-ei de vez."

Um outro desafio maior da Fretilin pode vir do líder do Partido Democrático Fernando "La Sama" de Araújo, que goza de amplo apoio entre os jovens da nação.

La Sama tem feito campanha numa plataforma de "estabilidade, justiça e governação ", com uma visão para unir a nação no "amor e paz ".

Contudo, para poderem ganhar, qualquer dos candidatos necessitará de ultrapassar o simbolismo poderoso do símbolo da Fretilin no boletim de voto, que muitos na nação largamente analfabeta identificam com a longa luta da nação para a independência.

Ramos Horta é um dos quatro candidatos que escolheram pôr o símbolo da bandeira nacional de Timor ao lado do seu nome no boletim de voto enquanto La Sama não optou por nenhum símbolo.

Espera-se que seja anunciado o resultado da eleição na Quarta-feira.

Se não houver nenhum vencedor claro, os dois candidatos de topo concorrerão a uma segunda volta no princípio do próximo mês.

Há receios de que possa irromper mais violência entre os lados perdedores quando forem publicados os resultados.

O responsável da ONU em Timor-Leste, Atul Khare, tem esperança de que as eleições terão um impacto unificador no frágil Estado.

"(Uma) eleição, na minha opinião, não é o último passo no processo democrático, é o começo do processo democrático," disse o Representante Especial do Secretário-Geral da ONU. "O dia a seguir às eleições, tanto os vencedores como os perdedores têm de se juntar em respeito mútuo e têm de decidir trabalhar juntos para a melhoria (da vida) do povo de Timor-Leste.

"A democracia não é algo que comece com o depositar de um boletim de voto e depois durante cinco anos esquece-se isso até à nova votação. "É o dia depois da eleição que penso é muito mais importante do que o dia em que os boletins de voto são depositados."

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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