segunda-feira, abril 09, 2007

Perfis dos oito candidatos presidenciais



Díli, 7 Abr (Lusa) - Mais de meio milhão de timorenses votam dia 09 de Abril, nas primeiras eleições após a independência do país em 2002. O sucessor do Presidente Xanana Gusmão será empossado a 20 de Maio. Será um dos oito candidatos, apresentados a seguir pela ordem em que aparecem no boletim de voto.

Francisco Guterres "Lu Olo" - 53 anos, natural de Ossú, Viqueque, na costa sul. Presidente do Parlamento Nacional.

Quando a Indonésia invadiu Timor-Leste em 1975, Francisco Guterres "decidiu fugir para o mato, onde viria a juntar-se ao pelotão comandado por Lino Olokassa, no Monte Perdido - Ossú", segundo a nota biográfica oficial do candidato presidencial.

Em Julho de 1976, Francisco Guterres foi nomeado vice-secretário da zona costeira Leste, em Matebian.

Nas duas décadas seguintes, ocupou diferentes cargos na resistência armada timorense, passando "mais de vinte anos sem entrar numa cidade ou vila", conforme refere o documentário "Nascimento de uma Nação" da cadeia ABC.
Em 1997, "Lu Olo" assumiu o cargo de secretário da Comissão Directiva da Fretilin, após a morte de Konis Santana.

No mesmo ano, foi criado o Conselho Nacional da Resistência Timorense, onde "Lu Olo" ocupou vários cargos.

Francisco Guterres foi eleito presidente da Fretilin no primeiro congresso do partido, em Julho de 2001, e reeleito em Maio de 2006.

Foi presidente da Assembleia Constituinte em 2001 e 2002.

"Como candidato da Fretilin, regresso às origens e revejo o passado de sofrimento por que passámos", declarou "Lu Olo" no seu manifesto de candidatura.

"Buscarei sempre inspiração nos nossos heróis, desde Nicolau Lobato a Nino Konis Santana", dois líderes da Resistência que "Lu Olo" homenageou no seu comício de encerramento em Díli.

"Lu Olo" apresentou-se na campanha como "filho de gente humilde" e "católico praticante".

Avelino Coelho - 44 anos, natural de Laclubar, Manatuto.

É deputado e líder do Partido Socialista de Timor e membro do Conselho de Estado, assessor jurídico, fundador de várias publicações periódicas e colaborador regular da imprensa de Díli, além de membro activo do movimento cooperativo timorense.

Viveu quatro anos nas montanhas, após a invasão indonésia. Colaborou com as estruturas da Resistência e esteve preso em Jacarta.

É formado em Relações Internacionais e Direito na Indonésia.
Justiça, "a bandeira do povo oprimido", foi o tema central da sua campanha, sob o slogan "Acabar com a crise, Reconstruir o país, Melhorar as condições de vida".

O seu lema político é: "Construir uma sociedade sem classes, onde todos vivam em fraternidade, igualdade, justiça e paz".

Avelino Coelho é descendente de um português que foi enviado para Timor pelo Estado Novo. Chamava-se Severiano Coelho, era do Minho.

"Morreu na Segunda Guerra Mundial, contra os japoneses, mas não sei onde o velho está sepultado".

Candidata-se para defender a Constituição. É, dos oito, o candidato mais à esquerda.

Francisco Xavier do Amaral - 70 anos. "Nasci nas montanhas. Se fosse em Portugal, teria nascido na Serra da Estrela. Sou de Turiscaia, a 17 quilómetros do cruzamento de Maubisse, na montanha", no centro do país.

Em 1974, Xavier do Amaral foi fundador da Associação Social Democrática Timorense (de que ainda é presidente), movimento político que deu origem à Fretilin, de que também foi fundador.

"Fui da Fretilin mas não sou radical. Aliás, a base de Timor é o animismo. O catolicismo e as outras coisas estão por cá há muito mas o animismo continua forte. Penso voltar para a política para concretizar o meu sonho, para criar um Timor independente, para Timor ser feliz e não um Timor para acordar com lágrimas".

Figura histórica, escolhido para o cargo de Presidente da República Democrática de Timor-Leste, declarada unilateralmente no dia 28 de Novembro de 1975 em Díli. Foi chefe de Estado por nove dias.

Foi detido pelo Exército indonésio em 1977 após divergências com outros dirigentes da Fretilin ("esses fretilinzitos tinham a ideia de que a vitória devia ser com o povo, como fez o Mao Zedong, que arrastava milhares de chineses. Mas comparar a China com Timor é fazer uma análise errada").

Nesta campanha mostrou-se preocupado com a situação de fome no país.

Manuel Tilman - 60 anos, nascido em Maubisse, centro do país. Advogado, professor, licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa, deputado à Assembleia Nacional.

Em Portugal, foi deputado do Partido Socialista pelo círculo da emigração entre 1982 e 1984.

Viveu em Macau e Hong Kong durante toda a década de 90, além de dez anos passados nos Açores. É actualmente reitor de uma das universidades privadas timorenses, a Universidade Dom Martinho Lopes/UNIMAR.

Manuel Tilman é apoiado pelo Partido Kota (União dos Filhos Heróicos das Montanhas de Timor) e defende os valores tradicionais e "a unidade cultural das ilhas de Timor, Solo e Flores", na Indonésia.

Insistiu na necessidade de um "tratado global de amizade" com a Indonésia que possibilite um espaço de livre circulação e negócio em todo o Timor, na parte Oriental e na parte indonésia da ilha, porque "devemos facilitar a reunião familiar" dos timorenses refugiados do outro lado da fronteira desde 1999.
Defende a adesão de Timor-Leste à Commonwealth, à semelhança de Moçambique, e um acordo de circulação e cooperação com a Austrália.

"O povo de Timor precisa de ressuscitar no Sábado de Aleluia", afirmou no lançamento da sua campanha, com um "hino de paz interior" e o mote "Dignificar o passado, pensar o presente, projectar o futuro".

Para resolver as clivagens nas forças armadas, Manuel Tilman propôs organizar territorialmente as Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste, segundo o modelo português no tempo colonial: "Artilharia em Baucau, Infantaria em Maubisse e Cavalaria em Maliana".

O seu programa inclui a construção de uma "cidade industrial", em vez "desta lixeira em frente ao Hotel Timor".

"Timor como um jardim", resumiu o candidato quando se apresentou às eleições.

Tilman usou na campanha uma bandeira com os algarismos 8 em fundo preto e o 1 em fundo branco.

"É uma bandeira dos nossos avós. Tem o número mágico, o da sorte infinita: o oito representa a unidade do mundo todo; o um representa a autoridade". É o símbolo que aparece ao lado da fotografia do candidato no boletim de voto.

Lúcia Lobato - 41 anos, natural de Liquiçá. Advogada e assessora jurídica, formada na Indonésia. Deputada pelo Partido Social Democrata, de que é fundadora com Mário Viegas Carrascalão, ex-governador de Timor durante a ocupação indonésia. É a mais jovem e a única mulher a candidatar-se.

"Timor-Leste está preparado para ter uma mulher na Presidência da República", garante Lúcia Lobato, que acredita que "as mulheres vão votar nas mulheres", visto que são mais de metade da população.

"Não quero fazer guerra contra os homens, mas os homens governaram durante cinco anos, ou sete, porque já no tempo da UNTAET eram homens", diz.

"A vida difícil dos timorenses piorou. Não têm comida, não têm casa, não têm electricidade, não têm estradas, não têm dinheiro. Estes nossos governantes foram os responsáveis mas hoje não querem assumir isso. É a nossa geração que deve oferecer uma alternativa a esta situação".

"Este Governo marginalizou a geração mais nova que não fala português, só porque nós fomos obrigados a falar a língua indonésia", acusa a candidata.
"Os que foram formados na Indonésia também são capazes de governar mas a Fretilin não quis aproveitar os recursos humanos que o país tem. Quem é da Fretilin recebe uma cadeira".

O seu programa de campanha centra-se numa mensagem de paz, unidade nacional, defesa da soberania, dignificação dos ex-combatentes e reforço do sistema de justiça.

"A Fretilin falhou em governar. É preciso dar uma educação cívica até às bases, fortificar o patriotismo e o nacionalismo. A independência começa a perder o sentido junto dos jovens. Mas o que é preciso é uma vida digna".

Lúcia tem o apelido Lobato e é prima direita do ex-ministro do Interior, Rogério. "Mas o nome sozinho não chega".

Pretende ser na chefia do Estado "um Presidente equilibrado mas decisivo", com a porta aberta ao povo - um dia por semana, para consultas.

"Eu já não quero saber do passado. É verdade que fui órfã mas eu olho para a frente. Sou feliz porque conseguimos a independência. Tenho lágrimas mas já não choro mais. Basta-me a chuva".

José Ramos-Horta - 58 anos, nasceu em Díli. Formado em Direito Internacional e membro fundador da ASDT e da Fretilin, partido que abandonou em 1989. Ministro dos Negócios Estrangeiros da Fretilin, após a declaração unilateral de independência de 1975, viveu no exílio em Portugal, na Austrália e nos Estados Unidos da América. Distinguido com o Prémio Nobel da Paz, com o bispo D. Xímenes Belo, em 1996, regressou a Timor após a consulta popular de 1999.

Chefe da diplomacia da RDTL desde 2002, assumiu o cargo de primeiro-ministro na sequência da demissão de Mari Alkatiri, em Junho de 2006.
"Não faço oposição à Fretilin, nunca o fiz e não vou fazer", garante o primeiro-ministro", garante.

Candidata-se à Presidência sem o apoio da Fretilin. "Felizmente, não devo grandes favores a nenhum partido político. Não estou comprometido com ninguém. Apenas com este povo".

José Ramos-Horta é o candidato mais conhecido internacionalmente. Já disse várias vezes que a crise política e militar de 2006 o desviou de um processo adiantado de angariação de apoios para ser secretário-geral das Nações Unidas.

Foi no estrangeiro, diz, que terá reunido apoios e "pressões" para se apresentar a estas presidenciais, sobretudo na deslocação a Nova Iorque para o Conselho de Segurança de 12 de Fevereiro.

"Quer o I Governo Constitucional, que o II, beneficiaram de apoios através de mim", sublinha ao falar das suas amizades "em Washington, em Nova Iorque, em Berlim, em Camberra, em Jacarta".

Internamente, o candidato sem partido apareceu ao lado de um veterano da luta, Cornélio Gama, aliás "L7", e do seu partido UNDERTIM (União Nacional Democrática da Resistência Timorense) e do movimento religioso Sagrada Família.

Outros partidos e cisões apoiam José Ramos-Horta, como o grupo Mudança da Fretilin e o Partido Milénio Democrático.

Do programa de José Ramos-Horta constam várias medidas directamente dirigidas à Igreja católica, supostamente um dos seus apoios eleitorais: desde a inclusão de referências mais explícitas a Deus na Constituição, ou a atribuição de um subsídio anual de dez milhões de dólares a instituições religiosas, ou, a nível dos símbolos, o lançamento da campanha vestido com uma camisa estampada com Jesus Cristo.

Ramos-Horta é filho de um sargento português, natural da Figueira da Foz, deportado para Timor na sequência da Revolta dos Marinheiros em Lisboa contra o Estado Novo e a Guerra Civil Espanhola em 1936.

João Carrascalão - 62 anos, nascido em Hatumassi, Liquiçá. Cursou Topografia e Agrimensura. Especializou-se em Cartografia na Suíça.

Fundador da União Democrática Timorense (UDT), em 1974. Membro de uma das famílias com maior tradição na política timorense desde os anos 70, é irmão do ex-governador do tempo indonésio Mário Viegas Carrascalão (presidente do partido da candidata Lúcia Lobato).

"Timor-Leste devia ter tido um período de transição bastante mais alargado" depois de 1999. "No mínimo de dez anos".

"Tenho consciência das limitadas funções que a Constituição da República atribui ao mais alto magistrado da nação", diz o manifesto eleitoral.

"Mas não tenho dúvidas quanto à contribuição do Presidente na boa condução dos actos governativos".

João Carrascalão realçou no programa o papel da família na sociedade timorense, lembrou a população muito jovem do país e dirigiu-se aos veteranos da luta, "a quem o país deve reconhecimento consagrado até na Constituição".

"Mas não devemos esquecer nunca que a vitória foi alcançada pela luta de todo o povo. Uma luta que não acabou, apenas mudou de objectivos".

Fernado "Lasama" de Araújo - 44 anos, nascido em Manutasi, Ainaro, centro do país. Presidente do Partido Democrático.

Quando tinha 12 anos, testemunhou o massacre de 18 parentes próximos pelo Exército indonésio, episódio que ditou o seu empenhamento político posterior.
Secretário-geral da RENETIL, o organismo juvenil da Resistência timorense, foi preso durante a ocupação indonésia, em 1991, e julgado por crimes contra o Estado.

Passou seis anos e quatro meses na cadeia de Cipinang, em Jacarta, a mesma onde esteve Xanana Gusmão, além de passagem por outras cadeias em Bali e em Java. "Foi nos anos de Cipinang que aprendi com Xanana e outros prisioneiros políticos. A minha formação política vem de Cipinang".

A Amnistia Internacional adoptou-o nesses anos como "prisioneiro de consciência" e recomendou-o para um prémio internacional de direitos humanos. Em 1992, recebeu o Prémio Internacional Reebok pela sua actividade em defesa dos direitos dos timorenses sob a ocupação indonésia.

"Lasama" foi vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da RDTL.

"Não haverá mais um governo de Mari Alkatiri, nem mais um Parlamento de 'Lu Olo'", prometeu durante a sua campanha.

PRM/PSP-Lusa/Fim

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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