terça-feira, junho 12, 2007

Dos Leitores

H. Correia deixou um novo comentário na sua mensagem "Timor Leste needs Indonesian language more than ot...":

"The simple fact is that Indonesian language is the lingua franca of Timor Leste. The only people in Timor Leste who can ignore this reality are the many foreigners who come with the pre-conceived notion that the history of East Timor began in 1999 with the vote for independence."

E eu a julgar que a língua franca de Timor-Leste é, e sempre foi, o Tétum. Se há estrangeiros que pensam que a História de Timor-Leste começou em 1999, parece-me que os autores deste "artigo" são estrangeiros de um outro tipo: os que pensam que a História de Timor-Leste começou em Dezembro de 1975.

Aliás, o nome deles diz tudo: anglófonos "visitantes frequentes", escrevendo em Denpasar sobre o que se "passa" em Timor-Leste.

A insistência em nos fazer crer que todo o mundo em TL usa e gosta muito do Malaio-indonésio, exemplificando com "testemunhos" de timorenses é uma táctica já muito velha.

"For the majority of Timorese who did not spend the years of Indonesian occupation in exile, Indonesian language is the language of the literate."

Que língua havia de ser? Pois se durante 24 anos foi a única que foi autorizada e imposta.

"Although Tetum is spoken day to day, there is not yet a universally accepted grammar and spelling."

Isto é outro exemplo das tais tácticas muito batidas por este tipo de gente: querem-nos convencer de que o Tétum é uma língua subdesenvolvida e não tem gramática ou ortografia "universally accepted", ou seja, "anglophonelly accepted". Tanto uma coisa como outra foram já há muito elaboradas pelo INL e estão em vigor em TL pela competente lei, mas estes inocentes "jornalistas" fazem de conta que não sabem de nada. A gramática e a ortografia não precisam de ser "universally accepted" porque só a Timor-Leste dizem respeito.

"Unfortunately right now there are very few books available in East Timor in any language."

Quando eu vivia em Timor, no tempo do "colonialismo", havia várias bibliotecas e eu próprio era frequentador assíduo das existentes na escola preparatória e no liceu. Só que os respectivos livros (e arquivos,etc.) foram todos queimados pelos indonésios. Mas hoje em dia há também muitas bibliotecas em TL, que são deliberadamente ignoradas pelos autores do "artigo". Uma das melhores, senão a melhor, é precisamente a da UNTIL, contrariamente ao que escrevem estes senhores.

Lembro também que nas feiras do livro lusófono, que se têm realizado anualmente em Dili, milhares e milhares de livros são vendidos a preços simbólicos, desaparecendo todos num ápice.

Para além disso, vários grupos de cidadãos anónimos tem contribuido para apetrechar as escolas timorenses de livros infantis, juvenis e didácticos, como a campanha promovida pelo grupo da internet "Crocodilo Voador", que dispõe de uma rede luso-brasileira que distribui os livros por escolas de todo o Timor, de acordo com as necessidades de cada uma.

"Although Timorese are enormously proud of their newly independent nation, they are practical enough to recognize the advantages of building on the foundation of the economic and educational infrastructure started by Indonesia".

Infraestrutura económica e educacional? Só se for anedota. Mas é curioso como frases como esta aparecem escritas na imprensa apenas escassos dias depois de Ramos Horta ter dito mais ou menos a mesma coisa:

"If President Ramos Horta has the courage and foresight to recognize the importance of Indonesian as a working language, the U.S. government should likewise have the guts to reconsider its position on sending Indonesian language translations of American books to Timor Leste."

Uma ideia muito inocente, sem dúvida, e tudo mera coincidência...

2 comentários:

Anónimo disse...

Tradução:
Dos Leitores
H. Correia deixou um novo comentário na sua mensagem "Timor Leste needs Indonesian language more than ot...":

"O facto é que a língua Indonésia é a língua franca de Timor-Leste. As únicas pessoas em Timor-Leste que podem ignorar esta realidade são os muitos estrangeiros que vêem para cá com a noção pré-concebida que a história de Timor-Leste começou em 1999 com a votação para a independência."

E eu a julgar que a língua franca de Timor-Leste é, e sempre foi, o Tétum. Se há estrangeiros que pensam que a História de Timor-Leste começou em 1999, parece-me que os autores deste "artigo" são estrangeiros de um outro tipo: os que pensam que a História de Timor-Leste começou em Dezembro de 1975.

Aliás, o nome deles diz tudo: anglófonos "visitantes frequentes", escrevendo em Denpasar sobre o que se "passa" em Timor-Leste.

A insistência em nos fazer crer que todo o mundo em TL usa e gosta muito do Malaio-indonésio, exemplificando com "testemunhos" de timorenses é uma táctica já muito velha.

"Para a maioria dos Timorenses que não passaram os anos da ocupação Indonésia no exílio, a língua Indonésia é a língua dos letrados."

Que língua havia de ser? Pois se durante 24 anos foi a única que foi autorizada e imposta.

"Apesar de o Tétum ser falada no dia-a-dia, não tem uma gramática e ortografia universalmente aceite."

Isto é outro exemplo das tais tácticas muito batidas por este tipo de gente: querem-nos convencer de que o Tétum é uma língua subdesenvolvida e não tem gramática ou ortografia "universally accepted", ou seja, "anglophonelly accepted". Tanto uma coisa como outra foram já há muito elaboradas pelo INL e estão em vigor em TL pela competente lei, mas estes inocentes "jornalistas" fazem de conta que não sabem de nada. A gramática e a ortografia não precisam de ser "universally accepted" porque só a Timor-Leste dizem respeito.

"Infelizmente agora mesmo há muitos poucos livros disponíveis em Timor-Leste em qualquer língua."

Quando eu vivia em Timor, no tempo do "colonialismo", havia várias bibliotecas e eu próprio era frequentador assíduo das existentes na escola preparatória e no liceu. Só que os respectivos livros (e arquivos,etc.) foram todos queimados pelos indonésios. Mas hoje em dia há também muitas bibliotecas em TL, que são deliberadamente ignoradas pelos autores do "artigo". Uma das melhores, senão a melhor, é precisamente a da UNTIL, contrariamente ao que escrevem estes senhores.

Lembro também que nas feiras do livro lusófono, que se têm realizado anualmente em Dili, milhares e milhares de livros são vendidos a preços simbólicos, desaparecendo todos num ápice.

Para além disso, vários grupos de cidadãos anónimos tem contribuido para apetrechar as escolas timorenses de livros infantis, juvenis e didácticos, como a campanha promovida pelo grupo da internet "Crocodilo Voador", que dispõe de uma rede luso-brasileira que distribui os livros por escolas de todo o Timor, de acordo com as necessidades de cada uma.

"Apesar dos Timorenses estarem enormemente orgulhosos da sua nação recentemente independente, são suficientemente pragmáticos para reconhecerem as vantagens de se construir nas fundações das infra-estruturas económicas e educacionais começadas pela Indonésia".

Infraestrutura económica e educacional? Só se for anedota. Mas é curioso como frases como esta aparecem escritas na imprensa apenas escassos dias depois de Ramos Horta ter dito mais ou menos a mesma coisa:

"Se o Presidente Ramos Horta tem a coragem e a visão de reconhecer a importância do Indonésio como língua de trabalho, o governo dos USA do mesmo modo deve ter coragem para reconsiderar a sua posição sobre enviar traduções de livros Americanos na língua Indonésia para Timor Leste."

Uma ideia muito inocente, sem dúvida, e tudo mera coincidência...

Anónimo disse...

Eu também senti muito triste, porque os meus livros que durante a 1ªfeira do livro lusófono no Mercado Municipal, que comprei e alguns oferecidos pelos os gestores (aquele momento fui também escolhido como um gestor do stand de uma edição.
Fiquei muita chatiada com quem robou os meus livros ;(

Falou sobre a língua, foi o meu amigo do msn no estrangeiro, não acreditou que sou timorense, porque falei bem a língua Indonésia com ele. Mas também gosto de falar Português claro.....e Inglês sinceramente.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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