domingo, agosto 12, 2007

A Talhe de Foice

Jornal Savana
10.08.07
(Machado da Graça)

Timor Leste

Em Timor Leste as coisas deram, definitivamente, para o torto.

A série de acontecimentos que se iniciou, o ano passado, com os actos de desestabilização do Governo, incitados a partir da Presidência da República (na altura ocupada por Xanana Gusmão), levou agora à nomeação do mesmo Xanana para Primeiro-Ministro.

No fundo, o que tudo isto significa é aquele pais, recentemente liberto da ocupação indonésia, passou a ser uma espécie de protectorado, controlado, em última análise, pela Austrália.

E isso fica mais do que provado com a arrogante atitude do Primeiro-Ministro da Austrália que, a semana passada, resolveu visitar Timor, durante várias horas, sem se dar ao trabalho de informar o Governo timorense, na altura dirigido pela Fretilin. O que terá ele feito durante essas horas não se sabe, mas o certo é que foi depois disso que o Presidente Ramos Horta convidou Xanana para Primeiro-Ministro.

A razão de tudo isto é, exactamente, a mesma que a da guerra no Iraque: petróleo.

Não podemos esquecer que tudo começou poucos dias depois de serem divulgados os resultados de um concurso lançado pelo Governo timorense para a exploração de zonas petrolíferas sob o seu controlo. Nesse concurso, nenhum dos candidatos australianos foi contemplado, tendo a preferência sido dada a uma empresa italiana, se bem me recordo.

A partir daí começou toda a confusão que descambou agora neste autêntico golpe de estado em que o partido mais votado nas últimas eleições se viu afastado completamente do Governo e dos órgãos mais importantes do parlamento.

Como aparentes vencedores do golpe surgem Xanana e Ramos Horta, ambos homens ligados à Austrália e aos Estados Unidos, associados a uma série de pequenos e grandes oportunistas, em que se destaca a figura sinistra de Mário Carrascalão quefoi membro do partido fascista português ANP e, depois da invasão indonésia, foi governador de Timor e defensor intransigente da integração na Indonésia.

É esta gente que, a partir de agora, vai substituir a Fretilin no Governo de Timor Leste, sob a protecção interessada da Austrália.

É bem de ver que, muito provavelmente, os acordos petrolíferos serão rapidamente alterados, a favor das empresas australianas.

Em tudo isto o mais constrangedor é a actuação de pessoas como Xanana Gusmão e Ramos Horta, cujos nomes estiveram intimamente ligados à libertação de Timor Leste do domínio indonésio, que aparecem agora a hipotecar a soberania nacional à outra grande potência regional.

Nas ruas de Dili, aparecem cartazes chamando traidor a Xanana. Designação pesada para quem foi considerado, até não há muito tempo, um herói. Mas, muito provavelmente, designação correcta, se nos basearmos nos acontecimentos desde 2006.

O facto de Xanana Gusmão ser casado com uma cidadã australiana, que não devia ter nenhuma repercussão na política do país, parece ter tido a maior importância nos acontecimentos.

Desde os primeiros momentos da crise do ano passado foi a mulher de Xanana que apareceu, na imprensa do seu país, a atacar o Governo legítimo da Fretilin e a deitar gasolina para o fogo, dizendo que falava em nome do marido.

Triste sina a do povo maubere que, mal liberto de um opressor, está a ser entregue agora a outro opressor, por pessoas em quem confiou.

Para que as riquezas da sua terra sejam usadas a favor de outros interesses que não a felicidade dos timorenses.

Pelo menos que não da maioria dos timorenses, porque alguns, sem a menor dúvida, receberão as migalhas que sobrarem do banquete dos ricos.

Raio de mundo, este...

1 comentário:

Anónimo disse...

"É bem de ver que, muito provavelmente, os acordos petrolíferos serão rapidamente alterados, a favor das empresas australianas."

Já foram. Ramos Horta "convidou" a Conoco Phillips para "conversações" sobre o petróleo e o gás...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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