quarta-feira, outubro 24, 2007

Dos Leitores

Fernando Reis, Coronel deixou um novo comentário na sua mensagem "Oficial português difere de CEMGFA timorense sobre...":

Mas eu digo-lhe que foi assim.

O COI não diz tudo e fala em reuniões, contactos etc, que numa situação de emergência, em que é preciso actuar no imediato, e evitar mortes não fazem sentido.

Claro que a UNOTIL não estava preparada para situações destas, mas ai deviam pedir responsabilidades ao SRSG.

Sobre o que realmente aconteceu em 25 de Maio, o Brig MTR está a baralhar um pouco as coisas ou a sua memória já não é o que era, ou então não lhe interessa dizer tudo, o que me entristece.

Sabe que fui ao encontro dele, com o meu adjunto LtCol David Mann, para que cessasse o fogo sobre o comando da PNTL, dizendo que tinha informação recebida por radio na UN, que se queriam render mas não o conseguiam contactar, e que vinha da parte do SRSG e me oferecia para mediar. Disse-lhe ainda que estavam lá 5 elementos da UNPOL. Respondeu-me que acedia ao pedido de cessar fogo mas que os elementos da PNTL teriam de sair desarmados e que os que lá ficassem com armas seriam atacados. Disse-me ainda que os levasse e às armas deles para onde quisesse.Foi depois de ordenar o cessar fogo à nossa frente que seguimos de viatura para o comando da PNTLonde dialogamos com o Com Afonso.A coluna apeada, comigo à frente de bandeira da UN na mão, seguia ladeada por viaturas da UN.

O tiroteio foi iniciado por um elemento, que tinha sido mandado afastar do cruzamento do M da Justiça pelo David, que procurou na coluna um determinado elemento da PNTL e atirou sobre ele( na altura, desconfiado com a presença próxima de militares armados, tinha-me virado para trás, pelo que vi o que aconteceu). Depois foi o que se sabe.

Na verdade eu e o David, quando verificámos que estava a ser prestado socorro às vitimas,fomos atrás dos 3 elementos que à nossa vista abriram fogo e dirigimo-nos ao Brig MTR (já tinha acabado o tiroteio) que estava perplexo com o tiroteio.Demonstrei a minha mágoa , tristeza e a traição sofrida, pois o Brig MTR tinha assegurado que sairiamos em segurança. Foi ai que deu ordem para procurarem quem abriu fogo e para os trazerem à nossa presença. Vieram 3 elementos(parece que um deles era major), reconheci 2 , um deles o que tinha iniciado o tiroteio, e que assumiram ali que tinham aberto fogo sobre a coluna. O Brig MTR repreendeu-os veemente lembrando o acordo (e o facto de terem atingido pessoal desarmado) que tinha estabelecido comigo e disse-nos para os levar para a UN e fazer com eles o que quiséssemos.Achei que não havia condições para os levar para o Obrigado, onde estavam os policias atingidos mas ficou a promessa de o Brig MTR os entregar quando fosse solicitado.
Na altura pediu-nos desculpas, com sinceridade e de uma maneira que não vou aqui dizer.
Esta é a verdade.

Lembro que tivemos 2 elementos da UNPOL que seguiam comigo a pé feridos, e se mais não fomos atingidos, tantos os ricochetes, era porque aquele não era o nosso dia.....

Espero ter avivado a memória do senhor Brigadeiro.

Cor Reis

Nota: Para a Lusa,que não reviu os apontamentos,eu não era assessor das F-FDTL, era o SMA/CMTA da UNOTIL

NOTA DE RODAPÉ:

Confirmamos a veracidade da identidade deste testemunho.

3 comentários:

Anónimo disse...

Agradeço a disponibilidade do Sr. coronel em vir esclarecer as dúvidas que pairavam no ar.

Não posso deixar de enaltecer a coragem e capacidade de iniciativa que ele e os seus colegas demonstraram nesse dia, tentando resolver uma situação muito delicada. Com efeito, havia que agir rapidamente e isso evitou decerto um massacre ainda maior.

Infelizmente, o Homem nem sempre consegue moldar o Destino. Há outros factores que influenciam o curso dos acontecimentos, e assim nem sempre o resultado é o esperado.

Claro que depois de as coisas acontecerem é fácil vir dizer que devia ter sido assim ou assado. Como os treinadores de bancada que, uma vez terminado o jogo, são peremptórios em afirmar que devia ter jogado fulano em vez de sicrano e assim talvez a equipa não perdesse.

É claro como água que nunca oficiais tão responsáveis e experientes iriam sair com os PNTL desarmados, sem haver previamente concordância e aprovação de TMR. E a prova que houve é o cessar-fogo que momentos antes este tinha ordenado. E que foi cumprido.

Acho que ficou também claro que, apesar da aparente violação das FDTL ao cessar-fogo, o tiroteio foi o resultado da inciativa individual de 3 ou 4 elementos desta força que, por ajuste de contas pessoais ou outros motivos que só eles poderão esclarecer, decidiram abrir fogo selectivamente, visando certos elementos da PNTL. Estes criminosos desobedeceram inequivocamente às ordens superiores.

Se TMR não está a ser fiel aos acontecimentos, caberá ao tribunal apurar a verdade e confrontá-lo com as eventuais contradições.

Mas o que me parece fundamental é que os perpretadores do massacre, ou quase todos, estão identificados e devem ser exemplarmente punidos.

E que jamais se repita uma tragédia como esta.

Anónimo disse...

Este testemunho do Coronel Fernando Reis nao reflecte nada bem nas F-FDTL e muito menos agora no testemunho que o TMR deu ao tribunal.

Anónimo disse...

Diz o Cor Reis: “Sobre o que realmente aconteceu em 25 de Maio, o Brig MTR está a baralhar um pouco as coisas ou a sua memória já não é o que era, ou então não lhe interessa dizer tudo, o que me entristece.”

Reli a notícia com as afirmações quer do Comissário quer do Brigadeiro-General e reli o Relatório do COI e francamente não entendo a sua afirmação de o Brig MTR estar a baralhar, a perder a memória ou não ter interesse em dizer tudo”. Francamente não entendo nem percebo onde quer o Cor Reis chegar com o seu reparo.

Contudo quando andava no google a procurar mais umas luzes sobre esse acontecimento encontrei esta entrevista com o Major Leonardo Sant'Anna que me deixou perplexa. Começa assim a entrevista”

“No momento em que eu me dirigi ao grupo de seis militares fui acompanhado pelo policial espanhol Juan Cuadrado e pelo tenente coronel australiano David Mann. Eu acabava de ter a confirmação com uma outra fração militar que já havia concordado em parar de atirar no Quartel General da Polícia Nacional do Timor Leste. Mais uma vez, foi feito contato com esse novo grupo para que eu pudesse me certificar de que eles tinham plena ciência do cessar fogo que havia sido determinado por um dos comandantes das Forças Armadas do Timor Leste. Eu precisava mostrá-los que nós estávamos desarmados, tanto os membros da ONU, como os policiais do Timor. Nossa comunicação verbal foi muito clara. Dadas as circunstâncias e apesar do perigo que nós corríamos, não havia outra forma de tentar salvar os policiais.

Assim que eu mencionei que era brasileiro, quando fiz um questionamento se algum deles falava português, dois deles se mostraram realmente muito simpáticos, falando sobre o gosto que tinham em estar com policiais militares do Brasil, o que me deu um certo conforto para ações futuras que foram tomadas. Nessa conversa, que se estendeu por cerca de 15 minutos, tudo se processou de maneira mais interessante. E naquele momento não havia qualquer sinal expressivo de agressividade por parte dos militares. A minha preocupação passou a ser com a tentativa de garantir que eles permanecessem calmos durante a passagem da coluna de policiais que fora formada para que nós nos deslocássemos para a base da ONU, todos em segurança.

Defesanet - Como foi para você presenciar isso tão de perto? Que sentimentos lhe despertaram?
Leonardo Sant'Anna - Para mim, particularmente, que estava em contato mais direto com eles, foi extremamente difícil compreender como ocorreu esse massacre. Mesmo estando em uma missão internacional nunca passou pela minha cabeça que eu seria uma testemunha viva de um massacre contra policiais. Foi algo muito diferente de tudo o que eu já presenciei nestes meus 17 anos como policial militar. É inimaginável que membros de um exército regular, dentro da nossa realidade, possam " abater" policiais do seu próprio país por qualquer que seja o motivo. Na ocasião, depois de resgatar todo o grupo de dentro do prédio em que eles estavam, nós estávamos desarmados e havia toda uma identificação da ONU em carros, uniformes e bandeiras. Contudo, nada disso foi respeitado, tanto que tivemos dois policiais da ONU feridos, um do Paquistão e outro das Filipinas.

O primeiro sentimento que me despertou foi o de ter falhado porque eu pensei que aqueles agressores quando dispararam na nossa direção com seus fuzis estariam dispostos a matar a todos. Depois, eu vi que tivemos uma grande vitória, porque após o desenrolar de tudo, eu percebi que se nós não tivéssemos retirado todos eles das instalações da polícia, que ficou sob intenso ataque das granadas, metralhadoras e fuzis, por mais de duas horas, todos eles teriam sido cruelmente mortos e nós não teríamos tido a oportunidade de salvar mais de 60 membros da Polícia Nacional do Timor Leste. Eu acho que foi um feito muito importante e isso me dá muito orgulho do trabalho que eu pude desenvolver. (...) “

O resto da entrevista está aqui:

http://www.defesanet.com.br/terror/timor_dili_santanna.htm

“uma outra fração militar”???, “ um dos comandantes das Forças Armadas do Timor Leste”, ??? “tivemos uma grande vitória”???, “ oportunidade de salvar mais de 60 membros da Polícia Nacional do Timor Leste”???, “ um feito muito importante”???

Caso queira, agradecia-lhe o favor de confirmar se era esta a linguagem utilizada na época no seio da UNOTIL em relação às F-FDTL e se era de facto tão aberto o antagonismo contra elas e tão manifesta a simpatia para com a PNTL.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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