segunda-feira, novembro 12, 2007

Entrevista exclusiva com a vítima do 12 de Novembro, Francisco Branco

Jornal Nacional Semanário - 10 de Novembro de 2007

Para reforçar a História de Timor-Leste é necessário construir monumento ao 12 de Novembro

O vice-chefe da bancada Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN) e vítima do massacre de 12 de Novembro de 1991, Francisco Miranda Branco, advertiu que, para reforçar a história de luta da juventude em Timor-Leste, o Estado deve construir um monumento em homenagem às vítimas do massacre de 12 de Novembro.

«Como é do nosso conhecimento, a construção do monumento 12 de Novembro poderá contribuir para reforçar ao povo desta Nação a ideia de que a juventude era o ponto fundamental no processo de luta até Timor-Leste adquirir a sua independência», afirmou a vítima do 12 de Novembro de 1991, Francisco Miranda Branco, ao Jornal Nacional Semanário (JNS), segunda-feira (5/11), no “Uma Fukun”, Parlamento Nacional.

A seguir, transcrevemos a entrevista exclusiva do jornalista do JNS, João da Silva, a Francisco Miranda Branco (FMB).

JNS: Pode dar alguma pequena explicação sobre o acontecimento de 12 de Novembro de 1991?

FMB: O dia 12 de Novembro foi uma luta de resistência do Povo de Timor-Leste contra a ocupação ilegal do nosso país por outro país, a Indonésia.

Foi um processo longo, com uma dinâmica surgida na situação global, onde o próprio povo indonésio sabia no momento que algumas situações não estavam bem clarificadas por parte do seu próprio Estado. Deste modo, após o acontecimento de 12 de Novembro, quando fomos detidos, o Grupo LBH ou “Advogados Activistas da Indonésia” ofereceram voluntariamente assistência de advocacia.

Na altura, todos os jovens se uniram com um único objectivo, o da auto-determinação para a independência, que era um direito de Timor-Leste previsto pelas Nações Unidas. Esse direito continuava a ter validade, apesar da permanência ilegal das forças indonésias em Timor-Leste. No entanto, essa permanência ilegal não invalidou o direito do povo de Timor-Leste para decidir a sua própria política e o seu próprio destino.

Quando ocorreu a manifestação para celebrar a cerimónia da deposição de flores em homenagem ao defunto Sebastião Gomes, desejávamos demonstrar a nossa solidariedade para com as vítimas e que as forças ocupantes da Indonésia praticavam uma violação sistemática do povo de Timor-Leste, com o genocídio ocorrido ao longo de vários anos, de que devem ser registados casos como Kraras, Moputima e Ainaro, entre outros casos isolados protagonizados pelas forças ocupantes para porem termo à resistência da luta contra essa ocupação ilegal.

Com a cerimónia da deposição de flores ao defunto Sebastião Gomes, desejávamos demonstrar a nossa posição política, ou seja, protestar contra a violação sistemática das forças indonésias em Timor-Leste.

Através desse protesto, desejávamos denunciar as violações sistemáticas de direitos humanos em Timor-Leste e relembrar que o direito à auto-determinação da independência de Timor-Leste continuava válido.

JNS: Há necessidade da construção do Monumento de 12 de Novembro?

FMB: A construção do monumento de 12 de Novembro, na minha opinião, é mesmo essencial, com o objectivo de dar conhecimento aos jovens sobre o longo processo da história de Timor-Leste, em que a juventude foi o ponto fundamental, tal como em 1974 a juventude já tinha também feito uma mudança radical de revolução de mentalidade de um povo colonizado, um povo que viveu durante um longo tempo adormecido e que era necessário acordar. Era um povo com a sua própria dignidade que tinha o direito de viver independente ou livre.

É por esse motivo que a construção do monumento é não só para recordar a juventude que tombou na tragédia de Santa Cruz mas também homenagem a todos os jovens que deram as suas vidas pelo processo de libertação nacional.

JNS: O que pensa do apoio do Estado às vítimas do 12 de Novembro?

FMB: Penso que esse processo deve atravessar várias fases. Uma foi a política do Governo anterior em atribuir valorização, reconhecimento e condecoração aos heróis que deram as suas vidas pela independência de Timor-Leste.

Mas essa ajuda não é suficiente, o que significa que é necessário dar o mesmo apoio aos outros, segundo a lei. Portanto, neste contexto, todos devem obter o mesmo tratamento segundo a lei.

JNS: Como encara o processo de justiça para as vítimas do 12 de Novembro até à data?

FMB: Não quero falar isoladamente das vítimas do 12 de Novembro. As vítimas do dia 12 de Novembro devem ser tratadas como as outras vítimas do longo processo de luta e resistência.

Muitas vezes ouvi dizer que os elementos integrados no processo do 12 de Novembro não desejam ser considerados vítimas, mas autores de libertação nacional. Portanto, não querem ser denominados vítimas, porque os jovens, com a sua própria consciência e responsabilidade, desejaram integrar-se na luta e não foram obrigados por alguém.

JNS: Está próximo o dia da comemoração do 12 de Novembro. Qual é o seu sentimento na comemoração desse dia?

FMB: Encaro o 12 de Novembro como um dia de reflexão da situação actual da Nação. Uma ocasião para todos os componentes da Nação reflectirem sobre a realidade da Nação no contexto actual e pensarem nos jovens que deram as suas vidas, contribuindo para que uma longa resistência ganhasse um nome e um povo que viveu quinhentos anos de colonialismo.

Portanto, considero que todos os componentes devem pensar e reflectir sobre a soberania e a independência da Nação, assunto que continua a ser uma preocupação no processo de consolidação e estabelecimento do Estado e no processo de estabelecimento da democracia pluralista em Timor-Leste. Assim, poderemos avançar como Povo e como Nação. Somos um país que vive em união com os outros países, com a comunidade internacional.

JNS: Como vítima do dia 12 de Novembro e actual representante do Povo no Parlamento Nacional, qual é o seu esforço para que as vítimas do acontecimento possam obter justiça?

FMD: Sabemos que a reconciliação é muito importante para desenvolver a Nação, em união com os outros povos e outros países do mundo.

Apesar disso, não devemos esquecer a justiça para as vítimas no nosso país. Pode haver muitos contextos no nosso país mas a justiça é um assunto importante que necessita da contribuição de todos, para os interesses do Estado, da Nação e do Povo.

JNS: Qual é o seu apelo às vítimas do dia 12 de Novembro, relativamente à comemoração do dia que está próximo?

FMD: Desejo exprimir o meu afecto e admiração aos jovens que deram os seus “peitos novos”, enfrentando armas ligeiras das forças de ocupação, gritando com mãos vazias pelos seus direitos e pelo direito do povo de obter a independência.

O meu afecto vai para os jovens que continuaram a gritar contra a ocupação indonésia ilegal.

JNS: Como vítima do acontecimento tem alguma exigência a fazer ao Governo?

FMD: Envolvido no acontecimento de 12 de Novembro, não quero ver os casos separadamente. Deve ser integrado no longo processo da libertação nacional. Portanto, para mim, as vítimas do massacre de Santa Cruz do dia 12 de Novembro devem ser tratadas igualmente como todos os outros que sofreram na longa luta de resistência do povo. Se o Governo desejar atribuir algum tratamento às vítimas do 12 de Novembro, ele deve ser igual ao de outras vítimas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Porque não? Se tem feriado para as vítimas de 12 de Novembro, porque não feriado para as vítimas de Crarás, Muapitine e Ainaro ou mesmo os que foram "enterrados vivos" em Matebian aquando dos bombardeamentos aéreos ou outros casos isolados quando queriam atravessar o cordão para ir a Cascol? Pensem bem! Creio que cada um de nós leva no seu íntimo a imagem do nosso familiar tombado e não duvido que eles rogam pos nós para que (seus) "o corpo tombado, sangue vertido" não seja em vão mas que nos sirva de exemplo na nossa Unidade, Acção e Progresso para uma construção sólida de Unidade Nacional desde Oe-Cusse até Tutuala. Creio que não são a construção dos monumentos é que nos une mas a maneira de ser "timor oan asuwain" no dia-a- dia é que faz toda a diferença para uma construção de Unidade Nacional onde todos nós aspiramos: Viver em harmonia neste nosso Timor que vimos erguer na isulindía à força de tantas vítimas.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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