quarta-feira, novembro 07, 2007

Timor-Leste: Problema dos deslocados "é sobretudo de propriedade", diz comandante australiano

Lusa - 06 Novembro 2007 11:18

Díli - O comandante das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) em Timor-Leste considerou a existência de deslocados no país "um problema complexo que é, em primeiro lugar, uma questão de propriedade".

"É um problema que tem a ver com questões de posse de terra que estão por resolver há muito, muito tempo", afirmou o brigadeiro John Hutcheson, em entrevista à Agência Lusa.

"Ainda nem sequer existe uma Lei da Terra neste país", sublinhou o comandante dos militares australianos e neozelandeses que integram as ISF.

"A terra é a questão central, ligada à origem das pessoas e à reacção que suscitam quando chegam a Díli", explicou o oficial australiano, salientando que já em 1999, antes do referendo pela independência, a propriedade foi motivo de conflito.

John Hutcheson, questionado pela Lusa sobre a crispação entre as ISF e os campos de deslocados, frisou que "apenas quatro dos campos criam problemas de segurança".

O comandante das ISF enumerou os campos do aeroporto de Díli, o do porto (em frente ao Hotel Timor) e o do Hospital Central Guido Valadares, além do campo de Metinaro, a leste da capital, como focos isolados de tensão.

"Estes são os campos com problemas. Mas os outros estão bem", referiu.

"É preciso dizer também claramente que, mesmo dentro daqueles quatro campos, é um pequeno grupo de indivíduos que está na origem dos problemas", acrescentou John Hutcheson.

"Esses elementos procuram criar um espaço para os seus interesses e usam todo o tipo de emblemas", respondeu John Hutcheson, referindo-se à instrumentalização política dos deslocados.

"No fundo, porém, são elementos criminosos que se aproveitam da política e do que estiver à mão para fazer dinheiro e intimidar as pessoas", considerou.

"Os deslocados, em si mesmo, não são uma ameaça à segurança e não podemos rotular as pessoas dessa maneira", frisou o comandante australiano.

Na semanada passada, uma operação das ISF no campo do aeroporto de Díli provocou um ferido, num incidente semelhante ao que, em Março de 2007, provocou a morte de dois deslocados atingidos a tiro por soldados australianos.

Sobre os motivos que impedem o regresso dos deslocados às comunidades de origem, John Hutcheson começou por distinguir "a diferença entre o medo real e a percepção do medo".

"Há um pequeno grupo de deslocados que têm medo de voltar ao sítio específico onde viviam, em particular se as suas casas foram queimadas", notou o oficial australiano.

"A percepção do medo é a das outras pessoas que pensam que ainda não é seguro voltar e a quem o governo devia restaurar a confiança, porque na minha perspectiva, não há nada a recear" porque "o ambiente é muito diferente de há 18 meses atrás e é bastante seguro", referiu John Hutcheson.

O comandante das ISF salientou que a situação dos deslocados na capital é influenciada por "outro fenómeno igual ao que acontece em todo o mundo ocidental, que é a urbanização acelerada".

"As pessoas descem das aldeias na montanha para a cidade, vêm para Díli e Baucau por quererem mais dinheiro e outro estilo de vida, mais educação e melhor saúde", notou John Hutcheson.

"Aconteceu isso nas ilhas do Pacífico e na Austrália. Mas com a questão da terra (por resolver), o processo complica-se, porque quando alguém chega a qualquer lado em Díli é um estanho e há de imediato a questão de estar a tirar empregos ou bens aos que já cá estão", disse.

Para John Hutcheson, Díli é "uma grande aldeia rodeada de aldeias, que com o tempo se uniram umas às outras, e que nunca teve um plano global de infra-estruturas", o que se reflecte em questões de segurança e problemas sociais.

PRM-Lusa/fim

1 comentário:

Anónimo disse...

O até agora circunspecto Jonh Hutcheson resolveu surpreender-nos com a revelação de alguns dotes inesperados, apoiados por "estudos sérios".

É caso para lamentar que a sua vocação para a sociologia, para o planeamento urbano e para a ciência política estejam sendo desperdiçadas num qualquer quartel em Dili.

Talvez isso ajude a explicar porque ele se encontra tão desfasado da realidade quotidiana timorense.

É que quando fala como brigadeiro, o Sr. Hutcheson enreda-se completamente nas suas próprias contradições.

Diz ele que dentro dos campos de refugiados existem grupos de "criminosos" que estão "na origem dos problemas".

Ora ainda há pouco tempo este oficial australiano dizia - a propósito do caso Reinado - ao juíz Ivo Rosa que a força sob seu comando não tem nada que se meter em assuntos de ordem pública, competindo à polícia a sua resolução.

Sendo assim, para que se preocupa ele com o que se passa nos campos de refugiados? E que faz lá a sua rapaziada?

Que fazem eles afinal em Timor-Leste? Go home, mates.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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