segunda-feira, março 19, 2007

Editorial JN Semanário

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Austrália

Não há erro maior do que ignorar a verdade e ainda por cima tentar transformar a mentira no facto. Os nossos vizinhos não estão de boa-fé no nosso país. Se não tivéssemos mais vizinhos como a Papua Nova Guiné, as ilhas Fiji e as outras, estaríamos hoje a anos-luz, de percebermos que o maior beneficiado nesta questão nacional é mesmo a Austrália.

A história dos nossos vizinhos responde e dá-nos respostas sobre a actuação das forças australianas na nossa sagrada terra. Ignorarmos as constantes ofensivas do primeiro-ministro australiano, do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, sobre a política interna timorense, é esquecermos que estamos a ser alvo da cobiça alheia.

De forma, pouco insuspeita entraram no nosso país. Vieram como salvadores da pátria. Aliás, como nunca vieram antes quando fomos ocupados barbaramente pelos militares indonésios.

Nessa altura, selaram a bordo de um avião o acordo de partilha do nosso petróleo com os indonésios e apressaram-se a reconhecer a anexação de Timor-Leste. Para a Austrália fomos sempre a 25ª província da República da Indonésia. Nessa altura, o equilíbrio timorense ao nível dos recursos naturais serviam as suas necessidades. Veio o referendo, veio a vitória da verdade.

A mais alta verdade até hoje escrita pelo Povo mártir nas urnas através do voto. Vencemos os Indonésios, venceremos perante os novos desafios colocados por uma potência regional que teima em reinar fora do seu ambiente: a Austrália.

Timor-Leste jamais se vergará aos subjugadores da verdade do Povo maior de Timor-Leste.

Depois do referendo veio a destruição do país. Os australianos apressaram-se a entrar e a nada fazer. Permitiram a continuada deportação de pessoas para o outro lado da ilha, e por detrás dos óculos escuros dos seus militares estavam olhos de jovens de ordens para não actuarem. Os óculos, esses, reflectiam as chamas das casas e dos departamentos que ardiam às mãos de militares e de milícias pró-integracionistas, perante a passividade australiana. Lamentavelmente, a sensação que dá é de memória curta da nossa parte. Mas, não é assim. Timor-Leste tem ainda a esperança de gritar liberdade efectiva e definitiva.

Em 2006 empurraram a comunicação social australiana para um constante bombardear das instituições nacionais. Gerou-se então o cenário da entrada. Uma vez cá dentro, eclodiram os maiores e mais continuados e repetidos actos de violência. O país entrou em definitivo na crise.

Os australianos falharam por não conseguirem esconder a verdade das suas intenções. A Austrália é a maior ameaça à soberania nacional. Recusamo-nos a ser um protectorado australiano, indonésio, português, americano, chinês, cubano, etc. Somos feitos da carne mais nobre que há!

Desta forma reafirmamos que temos condições para ir mais além, no caminho do progresso nacional, da igualdade de oportunidades, sem nunca abdicarmos da memória dos nossos saudosos mártires. O caminho é nosso e não precisamos de falsos amigos.

Timor Timor Telecom

Debaixo de fogo, É assim que se pode encarar a anunciada liberalização pelo gabinete do primeiro-ministro. Resta saber se o Governo está em condições de quebrar um Contrato de Concessão, que desde que o actual primeiro-ministro chegou ao poder passou a ser parte integrante da sua agenda.

Isto leva a que nós consumidores e contribuintes, de direito nacional, perguntemos quais as vantagens desta decisão. Por outro lado, perante o brutal investimento feito para lançar as telecomunicações móveis e fixas, através de operador definido através de concurso público internacional, parece-nos um mau principio que pode em tudo conduzir à descredibilização dos concursos que doravante lançarmos.

Tem o país estrutura para operadores privados? Sabemos que não, apenas há mercado para concorrência desleal.

Lembramos a TELSTRA que operou durante a vigência da ONU no nosso país e que não meteu cá uma única base definitiva de serviço de telecomunicações. Já nessa época o proteccionismo era de tal ordem que mais ninguém fora autorizado a entrar nesse espaço…

A TELSTRA não esticou um cabo, nada gastou. De tal forma, que não acreditou numa operação financeira - onde faltariam consumidores internacionais em número -, que nem sequer concorreu ao concurso que fora aberto. Aquilo que cá estava era o sobrante operacional da Telcom Indonésia.

Se a memória não nos falha, a poucos dias de encerrar o prazo de entrega de propostas, ali dos lados da Austrália vinha a vontade de inviabilizar o mesmo. Recordamos que a mesma tentativa de inviabilização foi feita em Língua portuguesa por um expatriado, ao serviço das Nações Unidas, e residente na Austrália. Estavam previstos 10 anos de concessão e de repente, sem mais nem porquê, é anunciado que o prazo de concessão seria de 8 anos. Bem ou mal, alguém, neste país, decidiu que seriam 15 anos.

Quem cá esteve antes da Operadora Nacional de Telecomunicações serviu-se das bases em Darwin. Lembram-se do indicativo? E dos primeiros números de telefone? Também? Iremos ter mais do mesmo? Se é isto que vai acontecer, então não duvidamos que os preços baixem e o Governo perde um dos pilares fundamentais da economia do país e um dos maiores contribuintes para as contas do Estado. No entanto, os especialistas independentes é que sabem… ou será, que a Indonésia vai voltar em força, com as suas telecomunicações? Sempre são bem mais vindos que os australianos.

Se fossemos accionistas da Portugal Telecom, bem diríamos à administração, em Lisboa, para vender toda a participação ao Governo de Timor. Afinal, cá na nossa terra temos de ouvir e acatar as memoráveis e doutas análises de conceituados e reputados especialistas nesta matéria. Será um problema de Língua Portuguesa no investimento até agora realizado? Assim parece.

Avelino Coelho

Entra pela porta do lado ao atacar de forma indiscriminada a governação anterior à actual que se responsabiliza pelo país. O candidato a Presidente da República pelo PST, diz em entrevista nesta edição que tudo o que foi feito foi mal feito.

Contudo, se há coisa da qual o candidato não se pode queixar é de ter sido instaurado um sistema verdadeiramente comunista, onde ele próprio hoje não estaria na cena política nacional e a candidatar-se a um alto cargo nacional.

Estaríamos então numa dura ditadura onde a palavra livre seria puro crime. Se no passado, e a critica de Avelino Coelho é democraticamente aceitável, se cometeram erros - há quem já por aí diga que o principal terá sido a falta de pulso ao nível social -, como analistas temos de dizer que o “erro”, a existir, terá começado pela administração da UNTAET.

Contudo, não esqueçamos, e o ilustre candidato também não o esquece, que o país se iniciou de uma base viciada em herança deixada por 24 anos de ocupação das tropas indonésias, aliás, herança que hoje culturalmente reside em muitos de nós. Até mesmo em alguns que hoje se candidatam a Presidente da República.

Até 9 de Abril o que está em causa são as presidenciais. Não são as legislativas, não é para formar novo Parlamento, mas apenas e só para o cargo de Presidente da República, cujos deveres e responsabilidades estão deveras defendidos e salvaguardados na Constituição da República, Carta Magna de todos nós.

Logo, nesta campanha para as presidenciais torna-se pouco curial afirmar-se que vamos mudar as regras da governação e o próprio sistema democrático. Nesta campanha exige-se a todos os actores contenção na palavra desvirtuada de valor. O cargo de Presidente da República é apartidário, e os candidatos são-no em nome individual e podem ou não merecer o apoio de partidos políticos – veja-se o caso de José Ramos-Horta.

Nesta entrevista, de Avelino Coelho, ficamos a saber que para além do antigo primeiro-ministro, há ainda outro grande culpado da situação que o país atravessa: a Língua Portuguesa – aliás superiormente dominada pelo candidato Avelino Coelho.

Ao acusar a Língua portuguesa de ser discriminatória e participante activa na pobreza nacional, esperava-se que o candidato continuasse a defender a Constituição da República. Natural seria, para tão bem falante da Língua Portuguesa, deixada pelos nossos saudosos avós, que se encarasse essa herança como identidade nacional agregada à nossa Língua Tétum. Parece desvirtuar o sentido dos analistas e peritos na matéria que têm dado ao Tétum e à Língua Portuguesa caminhos comuns.

O Tétum sem o português perde a sua genuína evolução – ou estaremos enganados? No entanto, até porque este jornal nacional se escreve e comunica em Língua Portuguesa , não poderíamos de endereçar o nosso respeito e a nossa discordância para com o nosso amigo e colunista de primeira hora nas nossas páginas. Avelino Coelho foi e é o mais activo cronista deste seu jornal. Foi e é aquele que mais escreveu até hoje em Língua Portuguesa , no JNSemanário.

Por outro lado, Avelino Coelho, fala em reformas profundas no país como razão para a sua candidatura a presidente da República. Porém, para que tal pudesse acontecer, teríamos de rever a Constituição da República e sairmos do regime semi-presidencial para passarmos à figura de um Estado Presidencialista. Como isso não está no horizonte constitucional, logo não se pode oferecer aos eleitores. Fazê-lo pode não ser correcto.

JNSEMANARIO

Crusader for East Timor dies aged 92

The Age (Melbourne) - Sunday, March 18, 2007

Mavis Taylor, the woman who in her 80s was made a national living treasure for her humanitarian efforts to help East Timor, died in hospital early yesterday morning in her home town of Yarrawonga.

Her son, Bruce Taylor, said the end had been peaceful for Mrs Taylor, 92. "She had this love which went beyond her immediate family and friends, it was a love which went out the door, down the street and even overseas — it was a love for humanity," Mr Taylor said.

Mrs Taylor (left) was a former haberdasher whose one-woman crusade inspired people to send household goods to war-ravaged East Timor after independence.

She led a quiet country life until in 1999 she saw a report on television that set her on a different course. She set up shipping containers in her backyard to be filled with donated goods and sent a total of 21 containers to East Timor.

Mrs Taylor is survived by eight children, many grandchildren and great-grandchildren, and one great, great, great grandchild. Her funeral will be held on Wednesday.

***

ABC - Saturday, March 17, 2007. 10:18pm (AEDT)

Woman named 'National Living Treasure' dies at 92

A Victorian woman who was made a National Living Treasure for helping the East Timorese people has died.

Mavis Taylor died early yesterday at the age of 92.

The retired seamstress started collecting household items for the East Timorese after violence erupted in the former Indonesian colony eight years ago.

Her son, Bruce Taylor, says she was a remarkable woman.

"It was a life well lived, let's be honest about it," he said.

"Yes, particularly towards the last part of her life, from the time she was about 85, 86 that she just determined that she was going to do something, and away she went and did it."

Mulheres de Ataúro fornecem bonecas de pano para escolas

Pedro Rosa Mendes (texto) e António Cotrim (fotos), da agência Lusa Ataúro, 18 Mar (Lusa) -
Na hospedaria de Vila Maumeta, na ilha timorense de Ataúro, o quarto do meio não recebe hóspedes. É o quarto maior, o dos sonhos, onde seis mulheres desenham, cortam e costuram bonecas de pano, orientadas por uma pintora suíça que lhes ensina a cor e a forma.

O Grupo Boneca de Ataúro ganhou recentemente um concurso promovido pela Unicef (o Fundo das Nações Unidas para a Criança) para fornecer brinquedos de pano às escolas pré-primárias de Timor-Leste.

É uma encomenda grande: 3.240 bonecas. Mil foram entregues a 01 de Março. O segundo lote empilha-se numa das paredes.

"Estes sacos têm bonecas", explica uma das costureiras, Luísa dos Santos. "Estão aqui 460". A próxima entrega para a Unicef é a 15 de Abril. A entrega final será a 30 de Maio.
"Num dia, fazemos vinte bonecas", diz Luísa.

E quantas bonecas pode fazer cada costureira sozinha por dia? "Num dia, fazemos vinte bonecas", repete a costureira. Não há trabalho individual neste grupo. "Duas senhoras para a almofada. Duas senhoras para a roupa. Duas senhoras para o cabelo".

Em cada boneca estão as mãos e as ideias de Luísa dos Santos, Basília de Sousa, Luciana Baptista, Lúcia Barros, Alexandrina Amaral e Ana da Silva.

Há uma mesa com dezenas de bonecas sentadas, já prontas. As bonecas nascem na mesa ao lado, onde se corta silhuetas coloridas em chita e popeline. As brincadeiras das crianças lá fora misturam-se com o som das máquinas de costura e das grandes tesouras.

"Primeiro corta-se a boneca, depois os olhos, nariz e boca, e a seguir as senhoras costuram a almofada. No fim, é bordar e costurar o cabelo", ensina uma das costureiras.

A alma (e a tesoureira) do Grupo Boneca de Ataúro é uma artista plástica de Chiasso (Suíça), Piera Zuercher, que se mudou para Ataúro para se isolar da crise política e militar que tomou conta de Díli em Abril e Maio de 2006.

"Estava em Díli a fazer um trabalho e no meio daquela confusão decidi que não estava lá a fazer nada", conta a pintora suíça.

"Vim para a ilha. A gente daqui precisa e quer trabalhar e isso entusiasma-me".

A ideia de fabricar bonecas de pano surgiu por acaso entre Piera Zuercher e um dos padres de Ataúro.

"Ambos gostamos de brinquedos e falámos nisto".

O Grupo Boneca de Ataúro, criado em Outubro de 2006, alterou a vida de cerca de trinta mulheres que trabalham em núcleos como o de Vila Maumeta, em diferentes pontos da ilha.
"Antes, todas nós ficávamos em casa todo o dia, assim só sem fazer nada", recorda. "Íamos à horta e só assim. Agora trabalhamos aqui todos os dias. Ficamos contentes com este trabalho".

"Elas são felizes criando brinquedos", diz Piera Zuercher. O quarto das bonecas é, também, uma ilha nas vidas difíceis que fazem a história das mulheres timorenses.

Ana da Silva, por exemplo, enviuvou com dez filhos, e toda a sua vida foi afectada pelos acontecimentos violentos de 2006 em Díli.

O Grupo Boneca de Ataúro terá em Junho uma exposição organizada pelo Instituto Camões, em Díli, coincidindo com o Dia Internacional da Criança.

O futuro do projecto passa pela exportação das bonecas, através de uma organização em Bali (Indonésia) que pretende colocar os brinquedos no mercado europeu.

"É uma sorte", afirma Piera Zuercher. "Agora estamos a fazer bonecas para Timor, mas não é para sempre.

Para continuar, precisamos de pensar outra coisa".

Piera Zuercher prossegue em Ataúro o seu próprio trabalho artístico e partilha a sua formação de pintura e arquitectura com as costureiras de bonecas, que às sextas- feiras têm seis horas de formação sobre cor e forma.

"Fora uma das senhoras que tem essa aptidão naturalmente, as outras não fazem relação entre formas e cores", diz Piera Zuercher. "É como se não pensassem nisso. Estão muito longe".

"Mas quando se mostra, entendem logo o que é melhor e o que não está bem", acrescenta a artista suíça, pegando numa boneca-modelo, muito perfeita, para a exposição de Junho. "Olha isto, que beleza!".

PRM-Lusa/Fim

Dos leitores

Comentário na sua mensagem "New party huge gamble for Gusmao":

Ameacada nao... pense bem quem e que se sente ameacada... nao serao os ditos novos "CNRT" que por terem tanto medo da FRETILIN tentam usar o nome de uma organizacao que sabem ter historia?

Se eles se sentem tao bem e confiantes, porque nao sao honestos e transparentes e utilizam um nome diferente? alem de mostrarem que nao tem respeito nenhum pela historia do pais.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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