quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Soldado Martinho, um arguido acantonado com peticionários

Díli, 27 Fev (Lusa) - Martinho de Almeida, fugido com o major Alfredo Reinado desde 2006, rendeu-se segunda-feira passada à polícia internacional em Timor-Leste e no dia seguinte estava de novo em liberdade, desta vez entre mais de 500 peticionários.

"Quando me entreguei, não pensava que me iam pôr aqui", afirmou hoje à agência Lusa o antigo subalterno do major Alfredo Reinado.

Martinho de Almeida entregou-se à Polícia das Nações Unidas (UNPol) em Maubisse (oeste), que também era a terra natal de Alfredo Reinado, e o comandante operacional da UNPol, Hermanprit Singh, escoltou-o pessoalmente para Díli.

A surpresa de Martinho de Almeida é que "julgava que ia ser preso". Não foi. Depois de interrogado em Caicoli, no centro de Díli, "entre as 18:00 e a meia-noite de segunda-feira", Martinho de Almeida foi transportado terça-feira para o acantonamento dos peticionários das Forças Armadas.

Depois da expulsão das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) e de dois anos em fuga, num limbo negocial com o Estado timorense, os peticionários iniciaram a 07 de Fevereiro de 2008 um acantonamento em Aitarak Laran, numa zona central da capital.

Hoje de manhã, na formatura, a contagem de peticionários ia já em 557, e mais eram esperados de vários distritos.

Martinho de Almeida tem uma história diferente dessa multidão de descontentes das F-FDTL, que, em Janeiro de 2006, alegaram discriminação de base regional no seio da instituição militar.

O soldado Martinho, como os 17 co-arguidos iniciais do processo Reinado, tem uma questão penal por resolver. Os peticionários, como várias vezes lembraram os líderes timorenses, são uma questão política.

"O meu futuro só será decidido depois de resolver o caso com a justiça. Eu estou pronto para ir a tribunal e aceitar a sentença que o juiz me der", afirmou hoje o jovem soldado, 26 anos, que entrou para as F-FDTL com 21, em 2003.

Martinho de Almeida, como o seu antigo comandante, foi acusado de crimes de homicídio, rebelião contra o Estado e porte ilegal de material de guerra.

Fez parte do grupo da Polícia Militar que seguiu o major Reinado quando ele abandonou o quartel, em Abril de 2006, no início da grande crise política e militar.

Martinho de Almeida reconheceu à Lusa que participou no primeiro incidente grave entre o major Alfredo Reinado e as F-FDTL, uma emboscada em Fatuhai, a sul de Díli.

"Mas era o major que estava à frente a disparar. Eu não fiz parte, estava na retaguarda do grupo", afirmou o soldado.

"Eu saí (de Díli) com Alfredo Reinado porque ele era o meu comandante e eu sou apenas um soldado e obedeço a ordens. Hoje teria de obedecer na mesma", explicou.

Martinho de Almeida continuou com Reinado nos meses seguintes, "até à entrega das armas pesadas e dos rádios" em Ermera, em Junho, e, no final de Julho, à detenção do ex-comandante da PM em Díli, pela GNR.

O soldado Martinho esteve também com o major Reinado na fuga do Estabelecimento Prisional de Becora, onde estava em prisão preventiva, a 30 de Agosto de 2006. Esteve fugido à justiça desde essa data até segunda-feira passada.

Martinho de Almeida afirmou à Lusa que esteve com Alfredo Reinado em Same (sul) durante o cerco e o ataque por tropas australianas, em Março de 2007. "Mas depois disso desviei para Maubisse e não voltei a estar com o major Reinado", contou.

"Só voltei a vê-lo em Novembro (de 2007), na parada de Gleno", a sudoeste de Díli, onde Alfredo Reinado juntou algumas centenas de peticionários numa demonstração de força.

"Não voltei a vê-lo depois disso. Nem participei no ataque de 11 de Fevereiro" ao Presidente da República, José Ramos-Horta, e ao primeiro-ministro, Xanana Gusmão, garantiu Martinho de Almeida sob o olhar atento e desconfiado de alguns peticionários.

A entrega voluntária de Martinho de Almeida "em nada altera a sua condição de arguido", afirmou à Lusa uma fonte judicial.

O despacho da Procuradoria-geral da República que mandou entregar o arguido em Aitarak Laran "foi motivado por se considerar que não era a melhor opção neste momento enviá-lo para a prisão de Becora", segundo a mesma fonte.

Martinho de Almeida vai ser ouvido por um juiz, talvez quinta-feira.

Os elementos da UNPol que o conduziram a Aitarak Laran levavam uma ordem para o entregar ao major Tilman - um dos elementos do actual processo de acantonamento que, no entanto, não fazia parte dos 592 signatários iniciais da petição nas Forças Armadas há dois anos.

Dos 17 co-arguidos no processo Reinado, dois estão em prisão preventiva, dois morreram no ataque a José Ramos-Horta e cinco entregaram-se ou foram capturados, segundo fonte judicial.

O julgamento tem a próxima audiência para 04 de Março.

Lusa/fim

NOTA DE RODAPÉ:

A PGR, mais uma vez, mostra o seu desconhecimento perante a Lei.

O Procurador-Geral da República NÃO pode dar ordens que se sobreponham às ordens judiciais dos Tribunais, dizendo que este ou aquele arguido, sobre o qual pesa um mandado de captura, não é detido´.

Este arguido, deveria ser imediatamente presente a tribunal, ao Juiz que lhe decretou o mandado de captura.

Timor-Leste aproxima-se cada vez mais do abismo... de um Estado falhado.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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