quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Timor pede soldados, Austrália acrescenta polícias

PEDRO ROSA MENDES, em Díli
Especial Lusa para o DN

Ataques provocam reforço de presença australiana

Dois aviões militares australianos aterraram ontem à tarde em Díli, com o reforço do contingente da Austrália em Timor-Leste. Um dos aparelhos trazia soldados. No outro vinham polícias.

O duplo pacote reflecte uma abordagem nova sobre a utilização da Polícia Federal Australiana (AFP) como instrumento de política externa de Camberra - com uma "citação" directa da GNR portuguesa em Timor-Leste enquanto modelo operacional.

Este reforço do contingente australiano acontece na sequência do duplo atentado contra o Presidente da República e o primeiro-ministro, segunda-feira.

A Austrália desembarcou ontem em Timor-Leste 200 soldados das Forças de Defesa (ADF), na maioria provenientes de uma Companhia de Caçadores do 3º Regimento Real Australiano (RAR).

Pouco antes tinha aterrado no aeroporto internacional de Díli a guarda-avançada do reforço australiano: 30 elementos da AFP, oferecendo uma imagem literal da nova abordagem dos contingentes policiais como instrumento directo de projecção da força e dos interesses de um país no exterior.

A Austrália, através do Grupo de Intervenção Internacional (IDG), é pioneira desta transformação da manutenção de paz clássica para um novo tipo de contingentes em que a polícia está inserida no grupo militar, como é o caso do reforço que ontem chegou a Díli.

O governo do ex-primeiro-ministro John Howard operou a transformação do IDG numa ambiciosa força paramilitar, com um investimento de quase 500 milhões de dólares australianos nos próximos 5 anos.

No final de 2008, o IDG terá uma força total de 1200 homens, equipados com material bélico pesado e meios de desembarque fora da Austrália, incluindo veículos blindados de transporte de tropas. A expansão do IDG absorve um terço do orçamento anual da AFP.

A AFP está, ou esteve recentemente, em missões no Iraque, Afeganistão, Sudão, Chipre, Camboja, Ilhas Salomão, Vanuatu, Nauru, Tonga - e Timor-Leste, o segundo maior contingente da AFP no exterior.

Fontes do Governo timorense e da Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT) afirmaram ontem, sob anonimato, que "a Austrália aproveitou o pedido timorense de ajuda militar para enviar também um contingente policial que não estava pensado inicialmente. Aconteceu o mesmo em 2006".

Na carta assinada em nome dos órgãos de soberania de Timor-Leste, o Estado pediu à Austrália "assistência na segurança", nomeadamente das ADF.

A carta, com três assinaturas, inclui também um pedido de "uma contribuição separada de polícia", com elementos da AFP.

O ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, Zacarias da Costa, explicou ontem que, na realidade, Díli aceitou o que Camberra sugeriu, formalizando o "pedido". "Para ser mais preciso, foi Camberra que ofereceu. Não fomos nós que pedimos. A Austrália voluntarizou-se para apoiar imediatamente na sequência dos incidentes. Agradecemos muito esse apoio", disse Zacarias da Costa.

"Disseram-nos que estavam prontos e depois concordámos apenas com a vinda. Falámos primeiro de reforço militar e depois a polícia foi uma oferta deles", acrescentou.

Esta atitude política, reflectida no conceito de "interoperacionalidade" da ADF e AFP, não é estranha para analistas e académicos que, na Austrália, têm seguido a "transformação da AFP em instrumento de política externa" e publicado ensaios e livros.

A expansão da AFP e a musculação do IDG numa força com capacidade militar foi, aliás, objecto de uma comissão de inquérito no Senado australiano.

A colocação em prática da AFP em cenários de "desestabilização" levanta problemas acrescidos no caso de Timor-Leste, segundo o académico Andrew Goldsmith, da Universidade de Adelaide, que lidera há 3 anos um estudo co-financiado pela AFP sobre a expansão da instituição.

"A Austrália enfrenta uma percepção na região de ser uma espécie de Grande Irmão simbólico", disse no Senado australiano e concluiu: "O envolvimento australiano no petróleo e gás de Timor tingiu a nossa capacidade de operar tão eficazmente quanto gostaríamos em Timor-Leste."

O desembarque de ontem foi precedido pela chegada a águas timorenses da fragata HMS Perth, com 150 homens.

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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