quinta-feira, março 27, 2008

José Ramos-Horta diz que houve falhas na segurança no ataque à sua residência

Lisboa, 27 Mar (Lusa) - O presidente timorense, José Ramos-Horta, afirmou hoje em entrevista à Rádio Renascença que houve falhas na segurança por parte das forças internacionais em Timor-Leste, que deveriam ter reagido imediatamente ao ataque à sua residência em Fevereiro.

José Ramos-Horta foi gravemente ferido a 11 de Fevereiro, junto da sua residência em Díli, num ataque que resultou na morte do major rebelde Alfredo Reinado e de um elemento do seu grupo.

Em entrevista à Rádio Renascença (RR) em Darwin, Austrália, José Ramos-Horta considerou ter havido falhas na segurança quer da parte da Polícia das Nações Unidas (UNPOL) quer das Forças de Estabilização Internacionais (ISF), constituídas por efectivos militares da Austrália e da Nova Zelândia.

“O senhor Alfredo Reinado e os seus homens teriam vindo de Gleno e as forças australianas estavam em Gleno, deveriam estar, sempre estiveram. Eles teriam saído de manhã cedo e qualquer veículo que sai de manhã cedo é obviamente logo detectado”, disse.

O presidente timorense disse também que a UNPol, depois de ouvir os primeiros tiros, não acorreu imediatamente à sua residência para ver o que se passava.

No entender de Ramos-Horta, não houve uma reacção imediata quer da força internacional quer da UNPol em cercar toda a área.

“Se tivessem agido como polícias militares verdadeiramente profissionais quando a residência do chefe de Estado é atacada, imediatamente com blindados e helicópteros cercavam a área toda e ninguém teriam escapado”, referiu.

José Ramos-Horta adiantou também à RR ter visto distintamente o homem que o atacou a 11 de Fevereiro na sua residência em Díli.

“Vi sim distintamente. Não conheço a pessoa, não sei o seu nome, dizem ser um tal Marcelo Caetano. Lembro-me perfeitamente da cara da pessoa”, salientou.

Ramos-Horta disse não estar arrependido de ter revogado o mandado de captura contra o major Alfredo Reinado porque acreditava e acredita que a situação poderia ser resolvida pacificamente.

“Qualquer acto que se realizasse na altura de força teria resultado na morte de muita gente do lado de Reinado e na morte do outro lado de quem fizesse o ataque, portanto era irresponsável por parte do senhor juiz português em Timor a desafiar e a criticar a postura não só do Presidente da República mas de todos os órgãos de soberania”, disse.

O presidente timorense referiu também que só irá pedir um inquérito internacional aos ataques de 11 de Fevereiro, se não ficar satisfeito com os resultados da investigação em curso.

“Aguardo o relatório do Procurador-Geral da República [de Timor-Leste]. Depois de o analisar e se estiver satisfeito com as conclusões, muito bem. Se não exigirei uma nova investigação”, afirmou.

Ramos-Horta sublinhou que os responsáveis pelos ataques - que tiveram também como alvo o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, que escapou ileso - devem ser julgados e punidos, porque atacaram os "dois órgãos de soberania", devendo ser averiguado os motivos que estiveram na origem do duplo atentado.

"Porque o fizeram? Quem está por trás deles? Quem os manipulou e envenenou? Quem tinha interesse em continuar a destabilizar o país? É isto que tem de ser averiguado", disse.

Na entrevista à RR, o prémio Nobel da Paz manifestou-se contrário a um boicote aos Jogos olímpicos de Pequim devido à violência dos últimos dias no Tibete, mas defendeu que o Governo da China deve ouvir o Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos.

A 11 de Fevereiro, José Ramos-Horta foi ferido a tiro, na sua residência em Díli, num ataque em que morreu o major Alfredo Reinado, e menos de uma hora depois, Xanana Gusmão escapou ileso a uma emboscada quando se dirigia da sua residência para a capital.

Depois de operado no hospital militar australiano em Díli, Ramos-Horta foi transferido para um hospital de Darwin, onde foi submetido a várias intervenções cirúrgicas, encontrando-se actualmente a recuperar dos ferimentos numa residência particular naquela cidade do norte da Austrália.


DD
Lusa/Fim

1 comentário:

Anónimo disse...

“Qualquer acto que se realizasse na altura de força teria resultado na morte de muita gente do lado de Reinado e na morte do outro lado de quem fizesse o ataque"

Se RH pensa mesmo assim, então para ser coerente não pode vir agora exigir que os responsáveis dos ataques sejam "julgados e punidos". Ou agora já não há perigo de morrer muita gente? Especialmente se a força internacional e a UNPOL tivessem agido como "verdadeiramente profissionais", "com blindados e helicópteros"?

O que mudou de então para cá? O que o fez mudar de opinião?

O que é facto presenciado por todos nós é que a sua "revogação" (RH não percebe mesmo onde acabam as suas funções como PR) do mandado de captura teve como resultado um atentado à vida do Presidente da República, que não morreu por muito pouco.

Não me agrada nem um pouco dizer isto, mas se RH tivesse falecido ele teria sido um dos principais responsáveis, senão o maior responsável, da sua própria morte.

Paradoxalmente, este facto gravíssimo é que veio mudar a atitude de RH, que agora exige o julgamento e a punição dos responsáveis.

Digo paradoxalmente porque, apesar de ter mudado de opinião, RH continua a dizer que estava certo antes. Mas se estivesse certo antes não teria havido atentado e agora RH não precisaria de exigir o julgamento nem a punição de ninguém.

A verdade é que o atentado fez RH mudar de opinião e, ao mudá-la, RH acaba por dar razão ao tal "juíz português", que agora já não pode acusar de "desafiar" e "criticar a postura" do Presidente da República e Governo (não "de todos os órgãos de soberania").

Note, Sr. PR que o poder judicial, do qual são titulares os tribunais, também é um órgão de soberania, pelo que este com certeza que não se desafiou nem criticou a si próprio.

Compreendemos que seja difícil dar o braço a torcer, mas este volte-face na opinião do PR mostra que ele está finalmente no bom caminho. É pena que essa teimosia quase lhe tenha custado a vida (só quem não o conhece), mas mais vale tarde do que nunca...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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