quarta-feira, maio 07, 2008

Vamos para Ataúro

A calma que se vive em Timor é aparente e deve ser aproveitado o actual momento de tréguas para se iniciar o diálogo

Público, 7/05/08
Por Loro Horta

Depois da rendição de Gastão Salsinha e do seu grupo, uma certa atmosfera de optimismo e alívio caiu sobre Timor-Leste.

Se dúvida que o culminar pacífico das operações na sequência dos atentados de 11 Fevereiro é de saudar e pode abrir uma nova etapa na vida política timorense. Mas os problemas persistem e podem levar a uma nova onda de instabilidade e desunião política.

A calma que se vive em Timor é aparente e deve ser aproveitado o actual momento de tréguas para se iniciar um diálogo honesto. Infelizmente não há muito tempo e os sinais de tensão já começam a surgir.

A rivalidade entre Xanana Gusmão e Mari Alkatiri e a sua poderosa Fretilin continua por resolver e encontra-se neste momento numa fase dormente devido ao choque de 11 de Fevereiro. Este período de tréguas irá acabar muito rapidamente se não forem tomadas iniciativas urgentes para continuar o diálogo entre os vários senhores da guerra da ilha do sândalo.

Não deixa de ser sintomático que Mari Alkatiri, logo após a tentativa de assassinato contra Ramos Horta, irresponsavelmente tenha dado a entender que Xanana fez uso do que em Díli já começa a ser visto como o seu exército privado, a recém-criada task force, para deter certos membros da Fretilin pretensamente suspeitos de envolvimento no atentado de 11 de Fevereiro.

O ódio pessoal que existe entre Xanana e a Fretilin continua a ser um perigo para Timor-Leste e, enquanto não for resolvido, continuará a afectar a polícia e as forças armadas.

É imperativo que se inicie um diálogo urgente entre a Fretilin, Xanana, a Igreja Católica e as mais importantes forças políticas timorenses, como o PD, a ASDT e o PSD. Este diálogo deve ter como objectivo promover a criação de um pacto de estabilidade nacional onde certos princípios de conduta política sejam acordados por todas as partes envolvidas. Um governo de grande inclusão devia ser seriamente considerado, pois nem a Fretilin nem Xanana têm legitimidade suficiente para governar sozinhos.

Independentemente de quem ganhe as previstas eleições antecipadas, é pouco provável que uma só força consiga sobreviver sozinha. Xanana e a Fretilin têm de estar no mesmo governo porque, estando um de fora, haverá sempre a tendência para minar o outro.

Com este objectivo, o general Taur Matan Ruak teria sugerido (1) um retiro na ilha de Ataúro de todas as personalidades influentes do país, para uma conversa franca e aberta em que tudo seja posto em cima da mesa. Muitos dos desentendimentos dos senhores da guerra de Timor são eventualmente resultado de questões pessoais e mesquinhas, que nada têm a ver com o interesse nacional.

Porque é que Xanana odeia tanto a Fretilin? Será porque, quando estava no mato, era um indisciplinado e foi várias vezes castigado por comandantes das Falintil, que eram do Comité Central da Fretilin?

Por que é que o primeiro-ministro Xanana Gusmão tem aparentemente tanto ódio a Rogério Lobato e cria a percepção de, através dos seus associados, tentar sabotar um indulto presidencial? Xanana foi capaz de receber aquele que é tido como um grande criminoso, Hércules, no meio de grandes abraços e espalhafato, mas não é capaz de perdoar a Lobato. Será que o prestigiado nome Lobato lhe faz sombra?

A Igreja Católica, que prega o perdão, tem feito campanha contra o indulto e nada diz sobre a família de Rogério Lobato, incluindo crianças e mulheres queimadas vivas em 2006, por indivíduos ligados a facções supostamente apoiantes de Xanana, que já foram claramente identificados.

São estas e outras questões que os líderes de Timor têm de abordar de forma aberta. Chega de golpes pelas costas, vamos abrir o jogo, vamos pôr os nossos medos. complexos e dúvidas cara a cara, como fizemos durante os 24 anos de luta para libertá-lo.

Vamos para Ataúro, onde Alkatiri poderá perguntar a Xanana o que é que ele sabe, sobre o que parecia ser um plano para raptar a família directa de Alkatiri, em plena crise de 2006.

Vamos para Ataúro, onde o general Ruak, outros veteranos da luta armada e Xanana podem deixar para trás eventuais desavenças e esclarecer desentendimentos do tempo da guerra.

Em Ataúro, os bispos podem esclarecer os seus medos e ódios à Fretilin e o seu escandaloso envolvimento em política, que contraria a sua própria doutrina de neutralidade.

Vamos para Ataúro para uma catarse nacional antes que seja tarde.

Timor-Leste tem uma liderança com muitas qualidades. Quantos países têm alguém com o prestígio e a rede internacional de Ramos Horta? Quantos têm um líder com a capacidade de Xanana de conduzir e entender a psicologia do povo timorense? Quem em Timor-Leste tem a capacidade e competência administrativa de Mari Alkatiri?

Os bispos têm o respeito e a admiração do povo e a igreja, se o quiser, será sempre um elo forte de unidade nacional. Unidas as forças acima mencionadas trariam estabilidade e paz a um país tão rico como é Timor-Leste. É necessário humildade e perdão entre os timorenses. Todos cometeram erros. Vamos aceitar os nossos erros e discutir frente a frente. Aceitemos o desafio do general Matan Ruak, um dos poucos que se têm comportado com honra nesta tragédia, e vamos para Ataúro. Que se demore o tempo que for preciso, mas que se ponham as coisas frente a frente duma vez por todas.

Países como Portugal e a Austrália deveriam coordenar esforços para promover tal diálogo e a possível assinatura de um pacto de estabilidade nacional antes das eleições. Mas, no final, cabe aos líderes timorenses unir o seu país.

(1)Quando do diálogo de alto nível que teve lugar no Hotel Timor, na presença do corpo diplomático acreditado em Timor-Leste, mas na ausência de Mari Alkatiri.

Investigador na S. Rajaratnam School of International Studies da Nanyang Technological University de Singapura.

6 comentários:

Anónimo disse...

Era bom que esse "retiro" em Ataúro fosse possível e, principalmente, eficaz!
Mas infelizmente "burro velho não aprende línguas!..." e assim é mais fácil reformar os katuas todos e entregar a gestão do país à nova geração tecnicamente qualificada do que conseguir que a "velhada" se entenda.
Vão conversar, conversar, deitam tudo cá para fora mas não têm emenda! Se tivessem já se tinham emendado, não acha?

Anónimo disse...

Alo Dili

Nao vale pena e perca de tempo ja fizeram tantos retiros nao houve nada de jeito.Com os criminosos a solta com riso cinico do Xanana e os seus aliados de tanto odio a Fretilin por nao ter dado a hipotese de fazer aquilo que ele quer.A corrupcao cronica nos Ministerios dos Ministros Gil Alves e Mariano Sabino e o apoio do Lasama dos dois no Parlamento vem -se claramente a incapacidade do Xanana e o Governo a controlar os fundos do Estado.As declaracoes frustadas do Padre Martinho de apoio a crise de 2006 nao se ve a separacao da Igreija e do Estado se quiser fazer politica deixa a batina e faz a politica.O que ele percebe da politica com ideias ultra conservadoras ja passou a historia naqueles tempos os padres eram os grandes senhores tinha salarios do estado trabalhavam para o regime facista portugues.
Entregar o pais a nova geracao de mentalidade corrupta e criminosa como Lasama,Mariano Sabino, Gil Alves, Joe Goncalves e Vital dos Santos entao o pais para onde vai ao abismo ou voltamos a Integracao a Indonesia

Adeus

de Aikurus

Anónimo disse...

o grande "especialista" sobre a situacao de timor-leste volta a falar... e preciso lata... facil para ele sugerir que todos se juntem, porque nao foi ele que foi insultado nem ameacado durante 2006... alias... onde estava ele em 2006? nao me lembro de ver a cara do jovem "investigador" em dili...

Anónimo disse...

Viva, anonimo! Que Dios te Bendiga! Se mais timorenses pensarem como tu, Timor, gozara de Paz e prosperidade. Porque realmente,"burro vello" nunca aprende. Ate quando? ate quando as pessoas se apercebem desta triste realidade? Quantas vidas tem que se perder para todos abrirem os olhos que nem Xanana, nem Horta, nem Alkatiri? Eles pertencem ao passado colonial e nada mais.

Anónimo disse...

Vamos para Ataúro?

Parece-me que o Loro continua com a pontaria errada. Então depois dele próprio reconhecer que há em Díli um “exército privado” do Xanana, que este tem ódio mortal quer à Fretilin, quer ao Rogério, quer ao Alkatiri – que levaram à morte morte de mulheres e crianças “queimadas vivas” de um e a planos para raptar a família do outro, e agora a “sabotar um indulto presidencial – depois de desabafar “chega de golpes pelas costas”, o que deveria propor não era vamos para Ataúro mas sim o tribunal do Distrito de Díli! É lá que funciona a justiça para os crimes que ocorreram – ou que estiveram para ocorrer - na cidade, e portanto é lá o local indicado para que a verdade venha ao de cima e a justiça prevaleça.

Anónimo disse...

Anonimo 2: passado colonial? mas que raio esta voce a falar? nunca ninguem negou que qualquer um dos 3 contribuiu para a libertacao deste pais. passado colonial?!! repito porque simplesmente e uma expressao que nao faz nenhum sentido quando se fala sobre qualquer um dos 3... acho que esta a misturar um pouco as as historias... estamos a falar da crise de 2006 e nao dos problemas de antes de 75.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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