terça-feira, outubro 07, 2008

AS TRÊS IRMÃS TRANCADAS

por Carlos Correia Santos

Essa é a história esquisita de três irmãs que viviam trancadas em casa. Altiva, Irana e Solita. Três criaturas realmente estranhas. O maior sonho que acalentavam? Chegar ao patamar de seres mais sábios do mundo. Por isso, viviam reclusas. Não queriam perder tempo com as bobagens da vida. Viviam cercadas por pesquisas e mais pesquisas. Pesquisas sobre como ficar mais e mais inteligentes. Pesquisas sobre como vencer seus concorrentes. Estudos sobre segredos para o sucesso.

Altiva passava o tempo inteiro com o queixo erguido. Só se interessava pelas informações que vinham do alto de suas estantes. Não olhava nunca para baixo. Não admitia nada que viesse de um nível inferior. Irana enchia-se de ira quando era interrompida em suas leituras. Gritava. Bradava. Não suportava ter de parar suas preciosas consultas para fazer qualquer outra coisa. Solita, por sua vez, pedia sempre para ficar só. Detestava ter que dividir suas descobertas. Odiava partilhar.

Três irmãs estranhas que só queriam uma coisa: sabedoria! Viviam tão mergulhadas em suas próprias idéias que não ouviam. Sim, não ouviam as batidas que se repetiam na porta trancada. Desde que se recolheram ali, alguém passava horas sem fim batendo à porta daquela assustadora casa. Alguém que queria entrar e se juntar a elas. Mas as três faziam questão de não ouvir. Havia tempo em que as batidas se tornavam nervosas. Havia tempo em que eram frágeis. Noutros, alegres. Em outros mais, tristes, muito tristes. Altiva, Irana e Solita ignoravam. Não davam a mínima. Não davam a menor importância. Tanto insistiu a quarta criatura, tanto bateu que, um dia, puiu a madeira e a porta desabou.

As irmãs apenas então resolveram perceber a situação. Tomaram um grande susto diante do incidente. Apenas então viram. Viram que quem passara estas épocas todas batendo e batendo era uma mulher com longuíssimos cabelos brancos. Cabelos que caiam pelos pés e faziam pelo chão rios de idéias, conceitos e noções. Uma mulher inteira vestida com fatos, circunstâncias e ideais. Uma mulher tão idosa quanto o universo e, ainda assim, aparentemente tão jovem quanto uma criança que ainda nem nascera. As irmãs olharam para aquela outra com fascínio e perguntaram num só tom de voz: “Quem és tu, belíssima?”. A outra sorriu inteligências e respondeu com luz: “Eu sou quem vocês tanto queriam encontrar. Sou a Sabedoria”.

Em meio a profundo espanto e emoção, o trio voltou a falar em uníssono: “Entre, portanto. Venha ser nossa companheira por todo o destino”. A Sabedoria de novo riu. Agora, no entanto, com mistério e poemas. Riu e disse: “Só fico com quem me abre a porta. A porta do coração. Não permaneço com quem se perde por si mesmo e não me ouve”. E foi-se a Sabedoria. Para nunca mais voltar.

*Carlos Correia Santos é poeta, contista e dramaturgo, autor selecionado no Edital Curta Criança do Ministério da Cultura e premiado pela Funarte na categoria teatro infanto-juvenil.

Contatos: carloscorreia.santos@gmail.com / contista@amazon.com.br

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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